segunda-feira, 2 de junho de 2014

Tema. Paixão amorosa. não está pronta esta proposta de redação...

Estar apaixonado

Poucas metas são tão fortes em nossa sociedade quanto a da paixão amorosa. É um dos maiores sonhos de consumo dos tempos atuais. Ele é dominante no mundo do entretenimento e também na venda de produtos que se associam ao prazer.

“Paixão” é um termo genérico que designa todas as afecções da psique, ou seja, tudo o que afeta nossa vida psicológica. Mas hoje reduzimos esta palavra ao que antes se chamava “amor-paixão”, isto é: um tipo apenas de amor, um tipo apenas de paixão. A paixão, no sentido atual, é o que vende novelas, parte substancial dos filmes e músicas populares, uma fatia razoável de romances que entram na lista dos best-sellers. E, além disso, todo produto que você possa anunciar para fazer as pessoas se apaixonarem – como, no caso dos homens, carros de alta qualidade e preço. Curiosamente, esses anúncios têm mais êxito na televisão e nas revistas do que em jornais ou no rádio.

Mas esse é apenas um sentido da palavra “paixão”. Em nosso tempo, ela está muito perto do desejo sexual intenso, geralmente novo. Além disso, é serial: uma paixão cede lugar a outra, “a fila anda”, como se diz. Só que isso nada tem a ver com a paixão amorosa, tal como ela surge no final do século 18, com o romantismo. O romantismo foi um dos movimentos culturais mais abrangentes que houve, porque ia da filosofia à literatura, da música à pintura. Era toda uma nova sensibilidade que aflorava.

E o que distinguia esse novo modo de ver, e sentir, o mundo? A convicção de que dentro de nós, no mais íntimo, há uma verdade forte que pulsa e que somente aparece na relação de duas almas, dois corações. É íntima, mas não é solitária. As aparências – beleza, dinheiro, poder – só a mascaram. Claro que, para se apaixonar, beleza e juventude ajudam. Quando um romance ou pintura aponta o amor apaixonado, quase sempre os personagens são jovens e belos.

Mas o importante é – melhor dizendo, era – o encontro dos corações. Todo o resto decorria disso. A conversa dos amantes era interminável. Das formas de amor, certamente o eros desempenhava um papel relevante no amor romântico, mas penso que empatasse com a philia, o sentimento intenso de amizade, de compartilhamento de ideias e ideais, numa comunicação que passava pela palavra e, mesmo, ia além dela. Há, havia, coisa mais bela do que ler para a amada um poema? Mostrar-lhe as coisas que mais nos marcaram, como aquela marca de “uma queda de patins em Paquetá”, que aparece em Latin Lover, de João Bosco?

Esse encontro de corações é, ou melhor, era altamente subversivo. Romeu e Julieta nem podiam imaginar que suas famílias temessem tanto o seu amor. O poder morria de medo do amor apaixonado. Por isso mesmo, essa paixão, que transmitia a verdade, era única na vida. Não havia fila, não havia segundo amor. E quem a sentia, morria. Era fatal, talvez letal. O poder se incumbia de trazer a morte aos apaixonados. Nada a ver com a paixão serial, conformista, consumista de nossos dias. Mas continuamos na próxima coluna. Renato Janine Ribero

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