Leia tudo e mais o que quiser.
Fenômenos de massa como o
funk carioca podem criar novos fenômenos que promovam a
participação da sociedade? Ou, servem apenas para alienar a
sociedade? http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=12258#sthash.KjdeTaNL.dpuf]
Por muito tempo, os
antropólogos acreditaram (com argumentos muito parecidos com aqueles utilizados
pela teoria apocalítica da indústria cultural) que o mundo caminha para a
homogeneização definitiva. Por isso a pressa de estudar as outras culturas
antes que elas desapareçam, antes que tudo fique igual para sempre. O estudo de
fenômenos como o mundo funk carioca mostra que novas diferenças podem ser
criadas a qualquer momento, mesmo dentro de uma realidade “controlada” pelas
multinacionais . do disco e da televisão. Talvez seja a hora de deixar de lado
os preconceitos e a procura da pureza perdida. Para isso, basta seguir o velho
e bom conselho de Lévi-Strauss: “é preciso também estar pronto para considerar
sem surpresa, sem repugnância e sem revolta o que essas novas formas sociais de
expressão não poderão deixar de oferecer de inusitado” (Lévi-Strauss,
1976:328-366).
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........................................................Formado
pela tradicional Escola de Frankfurt, fundada em 1923, o filósofo e sociólogo
alemão Theodor Adorno vivenciou nos Estados Unidos experiências singulares que
não eram possíveis na Europa, trazendolhe percepções que outorgaria a indústria
cultural. Em seu livro Dialética do esclarecimento, Adorno define esse conceito
de maquinismo midiático que comanda multidões, massas, enfim, que rege a
sociedade e serve de alicerce para o capitalismo.
Quando migrou aos Estados Unidos, entre 1938 e
1946, foi trabalhar em um projeto na Radio Research Projet, que tinha como
finalidade saber tudo sobre os ouvintes estadunidenses. Logo se tornou diretor
musical do setor de pesquisa da Rádio Princeton.
Acostumado ao exigente e refinado gosto
artístico europeu, que cultivava sonoridades como o compositor austríaco Alban
Berg e do músico erudita Schönberg, Adorno sentiu-se deslocado e, sobretudo,
causava-lhe espanto perceber que, em uma megalópole como os Estados Unidos,
onde todas as pessoas buscavam histericamente meios de se tornarem únicas e
singulares, os produtos fossem tão massificados, dentro de um padrão que ele
(ainda) não entendia.
|
Em seus estudos, aprofundou-se na mídia
americana e notou que ela não se voltava apenas para preencher
despretensiosamente as horas de lazer aos seus espectadores, mas tinha como
intenção domesticá-los. Percebera então que, mascarado em meio aos programas de
TV, filmes, rádios, revistas e jornais estava uma força regida em função do
lucro.
Entendera que ao chegar em casa, um indivíduo
(ou uma família) tinha o seu momento de lazer controlado por uma força maior,
que o bombardeava a todo o momento, por meio da mídia, com anúncios e clichês
que garantiam o seu comprometimento com a produção e o consumo.
Ao compreender esse sistema, denominou-o de
“indústria cultural” que, meticulosamente, condensa todos os seus consumidores
a uma visão restrita de mundo, voltada às futilidades e obviedades, encorpando
o ciclo vicioso em busca do lucro financeiro e o bom saldo econômico das
grandes empresas e instituições.
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NOVOS
MEIOS informacionais surgiram ao longo do século XX e início do século
XXI, como é o caso da própria rede mundial de computadores (internet, mp3, mp4,
televisão digital, etc.), bem como novas formas de produção cultural, como o
avanço das técnicas musicais que utilizam aparelhos eletroeletrônicos com
tecnologia avançada – o que fez que a indústria cultural ampliasse a difusão
dos seus produtos e seu domínio. Assim, na sociedade atual, há uma rede de
produção e difusão que busca vender seus produtos em todos os lugares do mundo,
independente das particularidades regionais de cada país.
(...)
A quantidade de notícias a que se tem acesso
na sociedade capitalista atual é diversificada, como também são diversificados
os veículos que levam estas informações. Esta multiplicidade de dados é, na
realidade, voltada para confundir a mente de grande parte da sociedade. Afinal,
os veículos não conseguem analisar a sociedade de forma coerente com a sua
realidade. Ao contrário, atendem um interesse comum, que é o da classe
dominante.
O que existe na realidade concreta da
sociedade são diferenças sociais, políticas, econômicas e culturais, razões
pelas quais cada classe social utiliza os produtos da indústria cultural de
forma diferente. São vários os exemplos a serem dados na sociedade atual, a
partir da própria televisão – principal veículo de comunicação integrante da
chamada indústria cultural e que produz programas diversificados, porém
repetitivos –, que não atingem a todas as classes sociais de forma coerente e
homogênea.
Suas novelas, com receitas repetitivas, não
conseguem atingir o todo da sociedade. Além das classes sociais pensarem
diferente, elas também têm gostos diferentes, não sendo possível atingir toda a
sociedade. Aliás, algumas classes sociais são críticas em relação à televisão,
bem como seus produtos. Dieter Prokop nos oferece elementos interessantes para
esta análise.
Ele aponta outro caminho em relação à
indústria cultural e seus produtos, que vai além da análise proposta por Adorno
e Horkheimer. A postura teórica de Prokop é a ruptura com todas as ortodoxias.
Neste caso, como bem afirma Ciro Marcons Filho, em A análise do produto cultural, Prokop analisa a teoria da indústria cultural a partir de uma
perspectiva materialista.
Para ele, o espectador e consumidor dos
produtos da indústria cultural não são um simples receptáculo como quer a
indústria cultural, mas um ser pensante e crítico em relação aos seus produtos,
seja negando ou mostrando a possibilidade de consumir outros produtos, ou sendo
críticos em relação à repetição imposta pela indústria cultural. Segundo o
pensador, mostrar as contradições existentes na indústria cultural é um bom
ponto de partida para quem quer romper com esta fábrica de fantasias, pois o
consumidor pode, sim, ter autonomia na escolha dos seus produtos e se
apresentar de forma crítica perante a indústria cultural.
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Ministério Público pede proibição do show de Mc Pedrinho em Fortaleza
leia aqui
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A nova moral do funk
Gênero modificou a natureza clandestina da pornografia
Marcia Tiburi
A afirmação adorniana de que após Auschwitz toda cultura é lixo não perde sua atualidade. Se, de um lado, a frase implica que a cultura não vale mais nada, de outro quer dizer que “lixo” é a melhor categoria explicativa da cultura como “aquilo que se rejeita”.
Mas vem significar também que cultura é a experiência do que sobra para os indivíduos levando em conta as condições socioeconômicas e políticas marcadas pela divisão de classes, de trabalho, de sexos, da própria educação dirigida de maneira diferente a pobres e ricos.
A partir da elevação do lixo à categoria de análise, podemos com tranquilidade ecológica (aquela que faz a separação dos descartáveis por categorias) partir para uma brevíssima investigação daquilo que se há de nomear como “moralina funk”, a performance corporal-sonora que se apresenta como o ópio do povo de nosso tempo.
Muito já se escreveu sobre o fenômeno que merece atenção filosófica urgente desde que se tornou a “cultura” que resta para uma grande camada da população de classes menos favorecidas econômica e politicamente.
Muitos afirmam que “o funk carioca também é cultura”, mas pouco comentam sobre seu sentido como capital cultural justamente porque seu único capital implica uma contradição: pobreza material e espiritual. Ou seja, capital nenhum.
Na ausência desse capital sobressai o que resta aos marginalizados. Eles descobriram o valor daquilo mesmo que lhes resta. Eis o capital sexual.
A performance da moralina funk depende desse capital sexual. Explorado, ele é a única mercadoria da consciência e do corpo coisificado. Seu paradoxo é parecer libertário quando, na verdade, é a nova moral.
Pornografia moralizante
Produto dos mais interessantes da sempre moralizante indústria cultural da pornografia, a esperteza do funk carioca é transformar em regra aquilo que foi, de modo irretocável, chamado por seus adeptos pela categoria do “proibidão”. A versão da coisa que não é para todo mundo.
A fórmula do funk é tão imbatível quanto a lei do estupro das histórias do Marquês de Sade. É o barulho como poder, ou melhor, violência. Nenhum ouvido escapa da moralina funk na forma de disfarçadas ladainhas em que as mesmas velhas “verdades” sexistas se expoem, como não poderia deixar de ser, pornograficamente.
A economia do proibidão
Mandamento sagrado da performance é que ninguém ouse imputar marasmo ao tão cultuado quanto profanado Deus Sexo.
Não existe uso da pornografia autorizado, pois a regra de sua moral é a clandestinidade. Daí a função do proibidão na economia política do funk. A história da pornografia oscila entre ser o outro lado da lei e ser apenas outra lei.
Foi isso que fez seu sucesso político em sociedades autoritárias contra o princípio publicitário que lhe deu origem. É o que está dado em sua letra: porno (prostituta) e grafia (escrita) definem, na origem, a mulher que pode ser vendida. E que, para ser vendida, precisa ser exposta.
A pornografia é, assim, uma espécie de exposição gráfica da mercadoria humana. Não é errado dizer que a lógica que transforma tudo em mercadoria tem seu cerne na “prostitutabilidade” de todas as coisas. Nada mais simples de entender em um mundo de pessoas confundidas com coisas.
Que a pornografia esteja ao alcance dos olhos, dos ouvidos, de todos os sentidos, exposta em todos os lugares, significa apenas que a regra do ocultamento foi transgredida. Mas implica também sua efetivação como publicidade universal. Isso explica por que ela não choca mais.
Na performance do funk carioca ela é altamente aceita em escala social. Seja pela pulsão, seja pela acomodação, se o imoral torna-se suportável é porque ele tomou o lugar da moral. É a nova moral.
A pornografia de nossos dias é tão bárbara quanto a romana pornocracia, com a diferença de que não temos mais nada que se possa chamar de política em um mundo comandado por regras meramente econômicas.
Daí que todo funkeiro ou seu empresário saibam que seu negócio é bom pra todo mundo.
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