quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Proposta com tema bom para ENEM . Em busca de soluções para o problema da urbanização acelerada


Urbanização é o aumento proporcional da população urbana em relação à população rural. Segundo esse conceito, só ocorre urbanização quando o crescimento da população urbana é superior ao crescimento da população rural.
Somente na segunda metade do século 20, o Brasil tornou-se um país urbano, ou seja, mais de 50% de sua população passou a residir nas cidades. A partir da década de 1950, o processo de urbanização no Brasil tornou-se cada vez mais acelerado. Isso se deve, sobretudo, a intensificação do processo de industrialização brasileiro ocorrido a partir de 1956, sendo esta a principal conseqüência entre uma série de outras, da "política desenvolvimentista" do governo Juscelino Kubitschek.
É importante salientar que os processos de industrialização e de urbanização brasileiros estão intimamente ligados, pois as unidades fabris eram instaladas em locais onde houvesse infra-estrutura, oferta de mão-de-obra e mercado consumidor. No momento que os investimentos no setor agrícola, especialmente no setor cafeeiro, deixavam de ser rentáveis, além das dificuldades de importação ocasionadas pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda, passou-se a empregar mais investimentos no setor industrial.

Êxodo rural

As indústrias, sobretudo a têxtil e a alimentícia, difundiam-se, principalmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse desenvolvimento industrial acelerado necessitava de grande quantidade de mão-de-obra para trabalhar nas unidades fabris, na construção civil, no comércio ou nos serviços, o que atraiu milhares de migrantes do campo para as cidades (êxodo rural).
O processo de urbanização brasileiro apoiou-se essencialmente no êxodo rural. A migração rural-urbana tem múltiplas causas, sendo as principais a perda de trabalho no setor agropecuário - em conseqüência da modernização técnica do trabalho rural, com a substituição do homem pela máquina e a estrutura fundiária concentradora, resultando numa carência de terras para a maioria dos trabalhadores rurais.
Assim, destituídos dos meios de sobrevivência na zona rural, os migrantes dirigem-se às cidades em busca de empregos, salários e, acima de tudo, melhores condições de vida.

População urbana

Atualmente, a participação da população urbana no total da população brasileira atinge níveis próximos aos dos países de antiga urbanização da Europa e daAmérica do Norte. Em 1940, os moradores das cidades somavam 12,9 milhões de habitantes, cerca de 30% do total da população do país, esse percentual cresceu aceleradamente: em 1970, mais da metade dos brasileiros já viviam nas cidades (55,9%). De acordo com o Censo de 2000, a população brasileira é agora majoritariamente urbana (81,2%), sendo que de cada dez habitantes do Brasil, oito moram em cidades.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2005 o Brasil tinha uma taxa de urbanização de 84,2% e, de acordo com algumas projeções, até 2050, a porcentagem da população brasileira que vive em centros urbanos deve pular para 93,6%. Em termos absolutos, serão 237,751 milhões de pessoas morando nas cidades do país na metade deste século. Por outro lado, a população rural terá caído de 29,462 milhões para 16,335 milhões entre 2005 e 2050.

 
O processo de urbanização no Brasil difere do europeu pela rapidez de seu crescimento. Na Europa esse processo é mais antigo. Com exceção da Inglaterra, único país que se tornou urbanizado na primeira metade do século 19, a maioria dos países europeus se tornou urbanizada entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20. Além disso, nesses países a urbanização foi menos intensa, menos volumosa e acompanhada pela oferta de empregos urbanos, moradias, escolas, saneamento básico, etc.
Em nosso país, 70 anos foram suficientes para alterar os índices de população rural e os de população urbana. Esse tempo é muito curto e um rápido crescimento urbano não ocorre sem o surgimento de graves problemas.

Favelização e outros problemas da urbanização

A urbanização desordenada, que pega os municípios despreparados para atender às necessidades básicas dos migrantes, causa uma série de problemas sociais e ambientais. Dentre eles destacam-se o desemprego, a criminalidade, a favelização e a poluição do ar e da água. Relatório do Programa Habitat, órgão ligado à ONU, revela que 52,3 milhões de brasileiros - cerca de 28% da população - vivem nas 16.433 favelas cadastradas no país, contingente que chegará a 55 milhões de pessoas em 2020.
O Brasil sempre foi uma terra de contrastes e, nesse aspecto, também não ocorrerá uma exceção: a urbanização do país não se distribui igualitariamente por todo o território nacional, conforme podemos observar na tabela abaixo. Muito pelo contrário, ela se concentra na região Sudeste, formada pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

BRASIL: ÌNDICE DE URBANIZAÇÃO POR REGIÃO (%)

Região195019702000
Sudestes44,572,790,5
Centro-Oeste24,44886,7
Sul29,544,380,9
Norte31,545,169,9
Nordeste26,441,869,1
Brasil36,255,981,2
  • Estatísticas Históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1950 a 1988 2.ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990, p 36-7; Anuário estatístico do Brasil 2001, Rio de Janeiro: IBGE, 200, p. 2-14 e 2-15


Norte e Nordeste

O grau de urbanização da região é o mais baixo do país: 69,9% em 2003. No entanto, é a região que mais se urbanizou nos últimos anos. Entre 1991 e 2000, segundo o IBGE, o crescimento urbano foi de 28,54%. Além de ter-se inserido tardiamente na dinâmica econômica nacional, a região tem sua peculiaridade geográfica - a floresta Amazônica - que representa um obstáculo ao êxodo rural. Ainda assim, Manaus (AM) e Belém (PA) são as principais regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes cada.
Com mais de 51 milhões de habitantes o é a região brasileira com o maior número de municípios (1.793), mas somente 69,1% de sua população é urbana. A estrutura agrária baseada na pequena propriedade familiar, na faixa do Agreste, colaborou para segurar a força de trabalho no campo e controlar o ritmo do êxodo rural. O baixo rendimento e a baixa produtividade do setor agrícola restringiu a repulsão dos habitantes rurais, ao passo que o insuficiente desenvolvimento do mercado regional limitou a atração exercida pelas cidades.
 Ângelo Tiago de Miranda é geógrafo, professor de geografia e estudante do curso de Licenciatura em Pedagogia pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
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Urbanização acelerada explodiu ambiência, avalia economista da Unicamp

quarta-feira, 3 de outubro de 2012, às 6h00
Bruna Brandão
Wilson.jpgPara o economista Wilson Cano, o Brasil passa por uma crise urbana da qual só sairá com um acontecimento político de grande envergadura. “É preciso que ocorra algo como uma crise profunda, nos moldes da Grande Depressão, para que se criem condições políticas, psicológicas, sociais e econômicas capazes de reverter os problemas causados pela urbanização acelerada do país”, sentencia.
Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor do livro Ensaios sobre a crise urbana no Brasil, lançado em 2011 pela Editora Unicamp, Cano considera insatisfatória a atuação dos movimentos sociais no país.
“Se no passado eles foram peças importantes na luta pela redemocratização do Brasil, atualmente estão inativos – assim como os sindicatos, que se tornaram braços orgânicos do governo”, avalia.
O economista participou como conferencista do XII Seminário da Rede Ibero-americana de Pesquisadores sobre Globalização e Território, que acontece até amanhã, no Conservatório. Em entrevista ao Portal da UFMG, ele analisou os problemas gerados pela urbanização acelerada do país, as políticas de habitação implantadas pelo governo e a especulação imobiliária provocada pela entrada do capital estrangeiro nos anos 1990.
Em linhas gerais, quais os fundamentos e as principais características da crise urbana no Brasil?
Em primeiro lugar, somos um país subdesenvolvido, o que faz com que fenômenos como a urbanização não apenas assumam consequências positivas, mas também gerem problemas complicados e difíceis de enfrentar. A urbanização dos países latino-americanos, em geral, aconteceu de forma muito acelerada, durante cerca de três ou quatro décadas – prazo muito curto para que pudessem refletir e montar sistemas de planejamento, legislação e recursos apropriados.
Até os anos 1960 vivemos uma urbanização “suportável” porque a periferização ainda não havia sido feita da forma dantesca como ocorre hoje: o habitante da metrópole não morava assim tão longe de seu local de trabalho. Havia, ainda, outros esquemas de sobrevivência e de resolução de problemas, mais fáceis e ágeis do que os de hoje.
Era possível, por exemplo, comprar um lote em 120 prestações, sem juros nem correção monetária, e ainda ganhar cinco mil tijolos e 10 mil telhas para construir sua casa. É claro que existiam problemas de educação, saúde, higiene, água, esgoto e transporte coletivo, mas as questões eram menores e o enfrentamento, mais fácil.
Que tipo de problemas a periferização provocou?
A ambiência urbana, que de certa forma era sustentável, explodiu, e a periferização foi ao extremo. O tempo de deslocamento se multiplicou, e a precarização do transporte cresceu. Hoje, o passageiro gasta várias horas por dia andando de ônibus, trem ou metrô. O sistema de água já melhorou, mas o esgoto nacional é uma tragédia; são raras as cidades com um sistema razoável. Todas essas questões são sequelas da urbanização: efeitos negativos que se transformaram em problemas de grande porte.
A crise, então, é consequência de uma urbanização muito acelerada, sem o devido planejamento...
É uma herança disso tudo. Com a periferização, a conurbação, a metropolização e o surgimento de várias aglomerações urbanas, os problemas deixaram de ser locais e municipais. O lixo não é mais uma questão do “município X”, mas um problema regional. As dificuldades deixam de ser locais e passam a ser estaduais ou federais.
De que adianta, por exemplo, fazer um sistema de saneamento básico em um dos últimos municípios de determinada bacia, se as pessoas continuam poluindo a cabeceira? Entretanto, a soma dos gastos necessários para resolver o problema das dezenas de municípios de uma bacia qualquer, por exemplo, muitas vezes é mais alta do que a soma dos orçamentos de todos eles.
Dessa forma, a questão é transferida para a esfera federal, e passa a depender de questões políticas, institucionais, orçamentárias, fiscais – além da especulação imobiliária, que se multiplicou. A própria política nacional de habitação, a partir de 1964, foi um agente promotor dessa especulação.
De que forma isso ocorreu?
Primeiro veio o Banco Nacional de Habitação (BHN). Agora, o Minha Casa, Minha Vida segue a mesma lógica: a escolha de grandes terrenos na periferia das cidades por serem mais baratos e comportarem maior número de casas. Como consequência, o Estado tem que levar até lá água, esgoto, policiamento, saúde, asfalto e telefonia, o que custa uma fortuna. Esse processo provocou uma especulação violenta no valor dos terrenos imobiliários ocupados pela classe média, elevando os preços. Dessa forma, a política oficial da habitação chancelou toda a dinâmica de especulação do capital imobiliário – e o Minha Casa, Minha Vida continua fazendo a mesma coisa.
Essa situação é um caso tipicamente brasileiro ou outros países latino-americanos passaram pelos mesmos problemas?
Há diferenças, mas também há muito em comum. A urbanização tem a mesma herança: primeiro veio a exploração colonial, depois o exportador primário e, por fim, a industrialização acelerada.
É possível relacionar a crise urbana com essa crise financeira internacional?
Sim, porque mudou o caráter dela. Até os anos 90, era o capital nacional que comandava todo o circuito imobiliário, do qual fazem parte segmentos como construtoras e imobiliárias. Depois disso, entraram grandes grupos imobiliários que compram apenas 5% ou 10% das empresas nacionais, e exigem que elas façam uma abertura do capital em bolsa – uma jogada especulativa por meio da qual se faz o marketing para que investidores comprem os títulos e valorizem as ações. Assim, os 5% originais se transformam em 50%. E esses grupos constroem em grandes estoques de terra urbana, consolidando as condições para a especulação.
(Gabriella Praça)

Urbanização acelerada provoca impactos ambientais em Caruaru

Diminuição da área verde altera comportamento da fauna.
URB municipal garante que construções da cidade obedecem a Lei Ambiental.

Do G1 Caruaru
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Urbanização provoca impactos ambientais na cidade. (Foto: Reprodução/ TV Asa Branca)Urbanização provoca impactos ambientais na cidade.
(Foto: Reprodução/ TV Asa Branca)
A ONU determina que no território urbano para cada habitante seja preservada uma área verde de 12 m². Mas assim como na maioria das cidades brasileiras, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, isto não é uma realidade.
Se esta determinação fosse seguida, a capital do Agreste deveria ter o equivalente a 3.890.000 m² preservados. A cidade que tem sido marcada pelo crescimento vertical acelerado é lenta na preservação da natureza e várias espécies da fauna que ocupavam a região tiveram que se adaptar ao que os setores da sociedade chamam de 'evolução'.
No terceiro rio mais evoluído do país as garças não buscam peixes, o banquete é para se alimentar dos dejetos produzidos pelo homem. Um espaço poluído que é dividido por cavalos e outros animais.
As consequências negativas do crescimento urbano estão relacionadas até mesmo com o aumento das ocorrências de ataques de abelhas. "Infelizmente, isto acontece em todas as cidades brasileiras, com o aumento do crescimento imobiliário, estão derrubando matas, vegetação, o habitat natural, e esse habitat natural, essa alimentação que os seres vivos deveriam ter não vai existir mais, ocorrendo um desequilíbrio e, claro que a natureza tem as suas consequências", explica o biólogo, Alexandre Henrique.
Segundo sociólogos, o crescimento de uma cidade deve ser bem planejado, por exemplo, espaços com árvores deveriam estar mais presentes no ambiente urbano. Além disso, é preciso conscientização. "Ao olhar a natureza, não vê-la como estoque de matérias-primas e como um lugar onde se pode fazer o que sentir vontade. É necessário harmonizar a população com a natureza, isso significa um planejamento participativo, onde a população saiba quais são os interesses, as necessidades das áreas verdes e dos parques e, por outro lado, a necessidade de habitações com qualidade, com infraestrutura. E se essas habitações não vêm com a infraestrutura necessária, o que poderá desencadear são esgotos a céu aberto, lixos, insetos e incomodo para moradores", diz a doutora em Sociologia, Allene Lage.
O Departamento de Urbanização de Caruaru (URB) concorda que faltam mais áreas verdes, mas afirma que existem projetos para o setor. "Foram criados alguns parques e existe previsão para ser criado um no Bairro São Francisco e no Bairro Nova Caruaru, além da preservação dos existentes", afirma o diretor da URB, Aldo Arruda.
O diretor da URB garante ainda que as recentes construções existentes na cidade estão de acordo com a Lei Ambiental. "Para cada novo empreendimento, cada loteamento ser aprovado tem que ser prevista uma área verde, esta definição já é lei", conclui Arruda.
........http://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2013/08/urbanizacao-acelerada-provoca-impactos-ambientais-em-caruaru.html..........................................................
O mundo e o Brasil estão se urbanizando. Mais de metade da população mundial já vive em cidades. O Brasil em 20 anos será mais urbanizado que muito país desenvolvido. A urbanização acelerada e desordenada traz problemas: emissões de gases estufa, poluição, problemas de tráfego, má qualidade do ar e da água, violência. Mas, bem pensada, ela permite soluções em escala. A adaptação das cidades a um modelo sustentável pode ser a alavanca de um processo de desenvolvimento local de qualidade, que mobiliza investimentos, gera empregos e renda e bem-estar.
Para chegar ao novo modelo de desenvolvimento local é preciso repensar as cidades e redesenhá-las ao logo de várias linhas. Aqui destaco algumas delas, hoje no centro do movimento pelas cidades sustentáveis.
Mudar todo o sistema de mobilidade, restringindo o espaço dos carros. Trocar estacionamentos por parques, áreas de lazer e esporte. Melhorar a cobertura e eficiência do transporte público sustentável – metrôs, trens, bondes (tramways), ônibus elétricos – no caso dos bondes e ônibus, linhas mais bem planejadas, para reduzir o número de veículos na rua. Essa reestruturação da mobilidade permite fazer calçadas mais largas, mais praças, áreas de lazer e esportes, mais ciclovias, com maior segurança. As bicicletas podem ser o principal meio de transporte a pequenas e médias distâncias.
Reprogramar os bairros, tornando-os menores e mais autosuficientes, de forma que as pessoas encontrem praticamente todos os serviços e mercadorias a distâncias que podem ser percorridas a pé ou de bicicleta. Linhas circulares locais de bonde atenderiam os moradores nas distâncias mais longas e aqueles que não têm autonomia de locomoção. A descentralização das atividades de serviços cria vários centros, de forma que muitas pessoas passam a trabalhar perto de onde moram.
Adaptar as cidades à mudança climática, eliminando ou minimizando o risco de desastres por deslizamentos, enchentes, elevação do nível do mar, ventanias fortes, tornados. Matas ciliares e áreas de risco livres de construções e reflorestadas ou recompostas, além de reduzir os riscos de desastres, contribuem para alterar o microclima. Disseminar a cobertura arbórea nas ruas, adotar telhados brancos, verdes ou com placas solares para eliminar as ilhas de calor. As cidades cortaram as árvores. Agora têm que replantá-las.
Estudo recente http://www.rdmag.com/News/2011/07/Energy-Photovoltaics-Engineering-Study-determines-the-cooling-effect-of-solar-panels/ mostrou, por exemplo, que placas solares para geração de eletricidade cobrindo os telhados de casas e prédios refrescam essas construções no verão e oferecem um sistema limpo e eficiente de aquecimento no inverno. Hortas urbanas, quase todas orgânicas, estão sendo implantadas em bairros e condomínios de várias cidades com sucesso, muitas formando telhados verdes, oferecendo localmente verduras, legumes e frutas mais frescas, com mais qualidade e sem custo econômico e ambiental de transporte. A compostagem feita nos locais auxilia no processamento do lixo e na produção de adubo. À medida que os resíduos vegetais e animais passem a vir predominantemente de produção agrícola sustentável, sem hormônios e químicos, o adubo vai se tornando mais orgânico e mais saudável.
Essas cidades com vários centros se estruturam como sistemas altamente integrados, redes, de unidades autosuficientes que se assemelham a pequenas cidades, mais administráveis, mais seguras e mais sustentáveis. A tendência é que essas unidades tenham pelo menos um “jornal hiperlocal”, provavelmente mais de um e digitais, cobrindo a vida local e permitindo aos cidadãos acompanhar com transparência o que se passa em seu bairro. Essa é uma tendência crescente no EUA, começa a chegar na Europa e no Canadá.
A reprogramação das cidades pode ser vista como custo – quando é mal feita, envolve corrupção, não mobiliza os cidadãos e empresas – ou como oportunidade de desenvolvimento local, quando toda a cidade se mobiliza para se repensar, redesenhar, reformar e reconstruir.http://www.ecopolitica.com.br/2011/07/22/urbanizacao-requer-cidades-sustentaveis/
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MEIO AMBIENTE
Cidades justas e sustentáveis
Em entrevista, Pablo J. Farias, vice-presidente da Fundação Ford e chairman da coalizão Living Cities, que reúne 22 das maiores fundações e instituições financeiras e já investiu mais de US$ 1 bilhão na melhoria da vida nas cidades, fala sobre os desafios para o meio ambiente urbano em escala mundial
por Silvio Caccia Bava
LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL – Viver em cidades justas e sustentáveis é uma aspiração para a maioria dos cidadãos. Contudo, urbanizações recentes aprofundam as desigualdades e exclusões sociais, e criam ilhas de fartura em mares de pobreza. Como seria possível mudar a lógica segundo a qual os interesses do mercado estão acima do bem-estar da população?
PABLO J. FARIAS – Promover oportunidades, inclusão e mobilidade econômica para todos os habitantes não é apenas a solução ideal: é fundamental para a prosperidade econômica e para a competitividade de uma cidade. Construir cidades justas, a longo prazo, é do interesse de todos, não apenas dos que estão observando de fora. Estamos tentando demonstrar isso para ganhar a atenção global.
Precisamos integrar a necessidade de mobilidade econômica e acesso às oportunidades ao processo mais geral de crescimento e consolidação de uma classe média em economias emergentes.
A urbanização oferece uma grande oportunidade de consolidar avanços econômicos e construir competitividade em países que estão atravessando transformações econômicas e sociais. Mas é preciso transferir o foco: em vez de privilegiar os interesses do mercado, deve-se investir em oportunidades econômicas para as comunidades urbanas e na criação de uma classe média. Em última instância, esse será o aspecto determinante do sucesso das cidades.
Necessitamos desenvolver novas práticas de urbanização que tornem as cidades mais competitivas e fortaleçam as oportunidades para a população de baixa renda. As cidades definem suas oportunidades ao unir comunidades com diferentes fortalezas. Cidades justas carecem de melhores práticas de zoneamento, que permitam o acesso à moradia em áreas onde também estejam presentes oportunidades econômicas, sistemas de transporte, educação e saúde. Além disso, necessitamos de inovações do mercado que possam regularizar postos de trabalho e moradias irregulares.
DIPLOMATIQUE – Planejamento participativo e fortalecimento de lideranças locais têm como objetivo a democratização da administração pública. Mas isso significa que o governo perde poder e há muita resistência para a democratização das decisões. Como criar uma participação dos cidadãos que seja efetiva em processos decisórios que de fato tenham impacto sobre a formulação de políticas públicas?
PABLO J. FARIAS – Poder e responsabilidade andam juntos. Ao expandir governos participativos é possível fomentar a criatividade das comunidades e sua energia, além do seu comprometimento em melhorar as condições. Mobilizar os recursos e as capacidades de diversas comunidades é a chave para enfrentar os complexos desafios das cidades. Se conseguimos um acordo em torno de um plano que reflete as necessidades e aspirações do povo ao qual está direcionado, sua aplicação tende a ser muito mais fácil e bem-sucedida. A principal razão pela qual o planejamento desaponta em termos de resultados é que o processo em si galvaniza oposições que em geral se transformam em grandes impedimentos – diminuindo o progresso e a efetividade do processo.
Observamos muitas vezes que a participação cidadã é essencial para o sucesso de políticas públicas. Dito de forma simples, não é possível construir políticas públicas efetivas sem envolver o público ao qual elas estão destinadas. Em termos pragmáticos, isso é o que funciona.
É certo que alguns problemas superam os limites da municipalidade. Soluções regionais requerem uma nova arquitetura de governança, com novas instituições e fundos que estejam ligados às necessidades regionais. Existem bons exemplos em que essa nova arquitetura é possível e funciona no sentido de construir cidades justas e sustentáveis. Observamos transformações radicais em comunidades que perceberam compartilhar um destino comum; também vemos que as melhores soluções quase sempre transcenderam as fronteiras municipais.
Vários avanços em governança regional surgiram da necessidade de coordenar o desenvolvimento e o funcionamento dos sistemas de transporte. Regiões metropolitanas, como São Francisco e Atlanta, nos Estados Unidos, ou Manchester, Varsóvia e Casablanca, em outros países, converteram seus sistemas de transporte na chave para oportunidades econômicas. A região metropolitana da Cidade do México desenvolveu um programa que une o controle da poluição do ar a mecanismos desenvolvidos para inovações nos sistemas de transporte que podem fazer toda a diferença em comunidades de baixa renda. Ação regional é a chave para a sustentabilidade ambiental; contudo, a prosperidade econômica depende de ações complementares no campo da economia e do orçamento das cidades. Um projeto específico, certeiro, ajuda a desenvolver essa nova arquitetura de governança regional.
DIPLOMATIQUE – Empresas são o motor da economia, e geralmente as relações que estabelecem com o território seguem a lógica de sua reprodução, e não dos interesses da área em questão. Como estabelecer novas e inovadoras parcerias público-privadas quando a finalidade é apenas desenvolver um território justo e sustentável?
PABLO J. FARIAS – Expandimos o uso de ferramentas financeiras para além do desenvolvimento de infraestrutura afinada com os interesses empresariais. Empresas requerem força de trabalho estável e bem treinada. À medida que a economia se tornar integrada globalmente, será impossível para as empresas levar em conta apenas o terreno barato e os subsídios públicos para se estabelecerem em um lugar. A competitividade estará ligada ao sucesso de sua força de trabalho e ao desenvolvimento de comunidades prósperas que consolidarão a demanda do mercado local. Esse modelo requer comunidades bem-sucedidas, onde as famílias e seus bens estejam em segurança, os serviços de educação e saúde contribuam para promover uma força de trabalho competitiva e as riquezas sociais e culturais colaborem para gerar uma identidade mais forte e um comprometimento em compartilhar as riquezas.
Cidades justas não são melhores apenas para os cidadãos, mas também para os negócios. Cidades justas criam ambientes que podem deslanchar o empreendedorismo, expandir os microempreendimentos e tornar o trabalho mais sustentável. Nas cidades justas, os trabalhadores estão mais perto de seu trabalho, e os consumidores, mais perto do comércio.
DIPLOMATIQUE – A experiência brasileira de formulação de políticas urbanas inclusivas e sustentáveis criou uma arquitetura de participação que é um exemplo global de democratização da administração pública. Contudo, grande parte dos programas urbanos foi impulsionado pelo governo sem submetê-los a fóruns participativos, em função dos interesses do mercado. Existem experiências no mundo onde os interesses dos cidadãos prevalecem sobre os interesses do mercado? Como surgiram essas experiências? Ainda funcionam?
PABLO J. FARIAS – O sucesso vem de alinhar os interesses de atores das comunidades aos do setor privado e de estabelecer regulações, ferramentas e processos públicos que facilitem esse alinhamento. Isso requer liderança e visão, mas podemos demonstrar que as cidades que definem seu sucesso pela oportunidade de inclusão e crescimento resultam em espaços melhores que as definidas pela exclusão persistente de grupos de baixa renda e cidadãos novos. Um setor público forte é chave na regulação efetiva, mas é necessário gerar alianças que apoiem as ações regulatórias dos governos e impulsionem inovações. Nova York é um bom exemplo de como parcerias público-privadas podem aumentar a demanda do mercado por força de trabalho estável e competitiva e promover avanços em políticas de moradia e de expansão de oportunidades econômicas para os setores de baixa renda.
Silvio Caccia Bava
Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil



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