quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

TEMA 'MACONHA PARA FINS MEDICINAIS'

POSICIONE-SE A RESPEITO DO USO DA MACONHA NA MEDICINA

Texto 1
O auditório Genipabu ficou lotado na tarde desta quinta-feira, durante o XXX Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Cerca de 400 congressistas participaram da mesa redonda que tratou de mitos e verdades sobre o uso de maconha.
Escalado para falar sobre porque a maconha faz bem, o psiquiatra Antônio Waldo Zuardi destacou que a planta tem múltiplos usos: o caule serve para a produção de fibra; o fruto, como alimento e grão; e a resina pode ser utilizada na fabricação de medicamentos.
Ele fez um breve relato da história do produto e observou que o grande aumento no interesse pelo estudo da planta foi acompanhado do aumento de pesquisas sobre efeitos terapêuticos de maconha.
Segundo o pesquisador, foram encontradas evidências de efeitos terapêuticos significativos em ensaios clínicos controlados: anti-emético, estimulante do apetite, analgésico, miorrelaxante. Esses estudos, explicou, se restringem basicamente ao THC – principal princípio ativo da maconha.
Estudos também indicam utilidade terapêutica da maconha em pacientes com esquizofrenia e Parkson, que apresentavam sinais de psicose. Segundo o professor, “a terapia com cannabidiol resultou numa redução significativa de sintomas durante o período de tratamento”.
Efeitos negativos
“O Veneno está na dose”. Com essa frase de Paracelso, dita no século XVI, o professor associado da Faculdade de medicina de Botucatu (SP), José Manoel Bertolote, falou sobre os efeitos negativos da maconha.
Segundo o pesquisador, grande parte da relação que temos com a maconha vem de um pensamento calvinista que diz que “tudo que causa prazer é pecado, e o pecado tem que ser proibido”.
A maconha, ressaltou o professor, é uma planta com uma quantidade enorme de substâncias psicoativas e ela faz mal dependendo da dose e de quem fuma. “Faz mal para o cérebro, para a cabeça de alguns e para a economia de muitos”, disse.
José Manoel Bertolote rebateu possíveis consequências psiquiátricas provocadas pelo uso crônico da maconha. Segundo o estudioso, publicação da OMS, de 1988, afirma que não há nenhuma evidência que de a maconha provoque síndrome amotivacional.
Quanto à característica de dependência, de acordo com o professor, o potencial da maconha de causar dependência é muito baixo. Em uma escala de substâncias que provocam dependência, a maconha está no final da lista, só perdendo para o LSD. Bertolote destacou que o potencial de dependência da droga é menor que cafeína, nicotina e álcool.
Sobre transtornos psicóticos, o professor afirmou que a literatura está dividida igualmente a favor e contra o uso da maconha.
Outro argumento contrário ao uso da maconha diz que ela é “porta de entrada” para outras drogas. Mais uma vez, o professor Bertolote rebateu dizendo que a maior porta de entrada é o álcool, depois vem tabaco, solventes, anfetamínicos, sedativos, crack, para depois vir a maconha.http://www.cbpabp.org.br/hotsite/profissionais-discutem-pros-e-contras-da-maconha/
..................................................... TEXTO2
A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) promoveu nesta segunda-feira (25) mais um debate sobre a regulamentação do uso recreativo, medicinal ou industrial da maconha – desta vez sob a ótica da ciência e da saúde pública. Apesar de evidenciar a falta de consenso sobre a liberação da droga para uso recreativo, avançou uma percepção de que é urgente a liberação da maconha para fins medicinais.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), relator da sugestão popular para a regulamentação (SUG 8/2014), informou que deve separar a discussão em duas frentes: o uso recreativo e o medicinal. Depois da audiência, ele disse que vai apresentar relatório sobre o uso medicinal "nas próximas semanas".
– Nesse aspecto eu vou ter pressa, mesmo que o resto demore – disse Cristovam.
A liberação do uso medicinal foi defendida por pais de filhos com recomendação médica para fazerem uso de medicamentos derivados da droga, pelos especialistas convidados e até por quem é contra liberar a maconha com finalidades recreativas. O debate durou mais de quatro horas e abriu espaço para a manifestação de cerca de 30 pessoas.
Segundo o parlamentar, separar as duas questões não implica criar uma barreira para o debate do uso recreativo.
– A proposta [popular] veio para os dois. Apenas, por uma questão de urgência, nós vamos trabalhar primeiro, se o regulamento permitir, o caso medicinal – explicou.
Estudos científicos
O pesquisador e neurobiólogo Renato Malcher Lopes, da Universidade de Brasília (UNB), apresentou uma série de estudos que, conforme sua avaliação, comprovam os efeitos medicinais de elementos presentes na planta e os benefícios no tratamento de sintomas de diversas doenças e síndromes, como câncer, esclerose tuberosa, Síndrome de Rett e autismo.
De acordo com Renato Malcher, o tetraidrocanabinol (THC, principal psicoativo da maconha), é antiinflamatório, analgésico, estimulador, sedativo, além de ajudar na redução da pressão intraocular. O pesquisador acrescentou  que a maconha também é rica em canabidiol (ou CBD), substância que ajuda a combater convulsões e epilepsia.
Renato Malcher reconheceu que o uso abusivo da maconha traz problemas como a redução passageira da memória de curto prazo, durante o efeito da droga, que pode durar até seis horas. Ainda segundo ele, o uso da substância é contraindicado para psicóticos, jovens em crescimento e gestantes. De acordo com Lopes, os índices de dependência em maconha são inferiores aos de outras drogas.
Para o neurocientista, o Estado não deveria proibir a venda e o consumo de uma planta que traz alívio para o sofrimento das pessoas. Segundo ele, existe um moralismo equivocado que acaba punindo famílias que poderiam ser beneficiadas pelo uso da substância.
– Os problemas que o abuso da Cannabis podem causar são problemas administráveis e muito menos graves do que o abuso de algumas drogas inclusive que vendem na farmácia – disse.
'Só monstros seriam contrários'
Para o ex-deputado federal Luiz Bassuma (PV-BA), a exposição de Renato Malcher foi de um ativista e não de um pesquisador. Bassuma chegou a ser censurado por Cristovam por afirmar que Malcher tinha feito "apologia" da maconha. O senador disse que o ex-deputado poderia ter "até 50 minutos" para defender suas opiniões, mas deveria respeitar o professor, que havia sido convidado para dar o seu parecer como cientista e estudioso do tema. Apesar disso, Bassuma concordou com o uso terapêutico do canabidiol.
– Só alguns monstros seriam contrários ao canabidiol, somos contra o THC, que leva à dependência. Ele [Malcher] falou em segundos que a maconha leva à dependência 9% das pessoas que usam. E disse como uma ativista, de forma secundária, que jovens não devem usar porque causa danos – criticou.
O policial federal Nazareno Feitosa também admitiu o uso terapêutico da maconha, mas pediu cuidado na regulamentação. Segundo ele, nos Estados Unidos, pessoas que não têm nenhum tipo doença compram maconha para “dor nas costas”.
Já o senador Fleury (DEM-GO) disse que a liberação da maconha vai destruir o país.
– Se querem legalizar uma droga, devem procurar outros meios, não essa forjada tentativa de convencimento de tratamento e saúde – afirmou.
Tratamento
Mães e pais paraibanos que ganharam por decisão liminar da Justiça o direito de importar o canadibiol, composto químico proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), participaram da audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira. Eles deram o seu depoimento sobre como a substância tem ajudado no tratamento de patologias neurológicas que têm como característica comum um quadro de epilepsia.
A liminar para o tratamento de 12 crianças, 2 adolescentes e 2 adultos foi concedida pelo juiz João Bosco Medeiros, da 1ª Vara da Justiça Federal de João Pessoa. Segundo esses pais e mães que participam da audiência, desde o início do uso do canadibiol já é visível a melhora da situação de saúde dos seus filhos.
– O Estado está sendo omisso. Temos não apenas o desejo, mas a urgência dessa regulamentação. Que se estenda a discussão sobre o uso recreativo, mas que esse uso medicinal seja o mais rapidamente possível regulamentado – disse Sheila Geriz.
Durante a audiência pública, mães relataram o progresso na saúde dos seus filhos após o uso de medicamentos derivados da maconha.
Abordagem
Uma mudança de abordagem sobre a questão das drogas e da dependência química foi levantada por Vladimir de Andrade Stempliuk, membro da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, e pela assessora do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) Nara Santos. Segundo eles, o Brasil precisa focar a prevenção, não a proibição.
– Há percepção de que a atual política sobre drogas não tem produzido os resultados esperados e tem agravado a situação da violência e superlotação dos sistemas prisionais, principalmente nos países pobres e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, e contribuído para a perpetuação de preconceitos e o aumento da exclusão social das parcelas mais vulneráveis das populações – avaliou Stempliuk.
Sugestão
Pela sugestão (SUG 8/2014) em análise na CDH, deverá ser considerado legal “o cultivo caseiro, o registro de clubes de cultivadores, o licenciamento de estabelecimentos de cultivo e de venda de maconha no atacado e no varejo e a regularização do uso medicinal”. Durante o debate, a comissão recebeu centenas de manifestações favoráveis e contrárias de internautas.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/08/25/especialistas-defendem-uso-medicinal-da-maconha

TEXTO 3
Você é a favor ou contra a legalização da maconha? Se tiver dúvidas estará em melhor situação do que aqueles que têm uma visão passional sobre o tema. No Brasil, essa discussão ocorre num clima de Fla-Flu altamente improdutivo. Sobra opinião desinformada e falta análise objetiva.
Uma boa contribuição para o debate é observar o que aconteceu nos Estados Unidos desde que a maconha foi liberada em algumas regiões para uso medicinal, recreativo ou ambos. Um desses estados americanos é o Colorado, que se tornou um verdadeiro laboratório vivo. O que acontece ali é estudado em detalhes desde 2009. É uma forma de avaliar o impacto que a legalização da droga teria caso fosse adotada no país todo. 
Um novo e amplo estudo sobre o caso do Colorado ficou pronto neste mês. A íntegra você pode acessar aqui. Um dos líderes do trabalho é o sociólogo Kevin Sabet. Ele é diretor do Instituto de Política de Drogas e professor-assistente no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Flórida.
 
Sabet não mistura o debate sobre drogas com política. Por isso, foi o único a atuar como conselheiro em administrações tão distintas quanto as dos presidentes Bill Clinton, George Bush e Barack Obama.
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“A legalização é uma solução simplista para um problema complicado”, diz Sabet. Ao analisar o impacto social de drogas legais, ele ressalta que, nos Estados Unidos, o álcool é responsável por mais de 2,6 milhões de prisões por ano. Quase 1 milhão de prisões a mais do que as provocadas por drogas ilegais.
 
Neste sábado (23), Sabet participará de um debate no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. Foi convidado pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). Nesta coluna, você acompanha em primeira mão os principais pontos da palestra que Kevin fará durante o evento.
 
O Colorado liberou o uso de maconha medicinal há 13 anos. Em 2009, ocorreu uma grande expansão de pontos de venda. Cerca de 3% dos adultos receberam licença para uso da droga e surgiram mais de 700 farmácias dedicadas ao produto. A facilidade de acesso trouxe consequências.
 
Na capital, Denver, 74% dos adolescentes em tratamento contra dependência química afirmaram ter consumido a maconha medicinal de outra pessoa. Fizeram isso, em média, 50 vezes. Em 2013, dentre os estudantes do último ano do ensino médio que consumiram a droga, 60% afirmaram ter conseguido maconha com amigos. Apenas 25% compraram de traficantes ou estranhos.

Em novembro de 2012, o Colorado também liberou o uso recreativo da droga para adultos acima de 21 anos. As primeiras lojas do produto foram licenciadas em janeiro de 2014. “Só o tempo dirá qual o impacto dessa medida no país”, ressalta Sabet. “Os cinco anos de experiência do Colorado com maconha medicinal é um bom indicativo do que pode ocorrer”.
 
O que aconteceu? A seguir, os principais achados da pesquisa:

CONSUMO POR JOVENS
* Em 2012, a média de uso de maconha por adolescentes de 12 a 17 anos no Colorado era 39% mais alta que  a média nacional. O índice de consumidores da droga nessa faixa etária era de 10,4% no estado e de 7,5% no país.

* A quantidade de suspensões ou expulsões da escola aumentou 32% na comparação entre os anos letivos de 2008 e 2012. A maioria dos casos envolveu o consumo de maconha.

CONSUMO POR ADULTOS
* Em 2012, a porcentagem de estudantes entre 18 e 25 anos que fumavam maconha no Colorado era 42% mais elevada que a média nacional. O índice de consumidores da droga nessa faixa etária era de 26,8% no estado e de 18,8% no país. 

* Em 2012, 7,6 dos adultos acima de 26 anos fumavam maconha regularmente no estado – índice 51% mais elevado que a média nacional (5%).

* Entre todos os adultos que foram presos na capital Denver em 2013, 48% tinham testes positivos para uso de maconha. Um aumento de 16% em relação a 2008.

O EFEITO NO TRÂNSITO
* O número de mortes em acidentes de trânsito envolvendo motoristas que haviam fumado maconha aumentou 100% entre 2007 e 2012.

* A maioria das prisões por direção sob influência de drogas envolveu maconha. Em até 40% dos casos, o motorista havia usado apenas maconha.

* Os testes positivos para maconha em motoristas aumentaram 16% entre 2011 e 2013.


O EFEITO NOS HOSPITAIS
  
* Entre 2011 e 2013, os atendimentos de emergência de pacientes que haviam fumado maconha aumentaram 57%.

* As internações relacionadas à maconha cresceram 82% entre 2008 e 2013.

Não são dados desprezíveis. O que aconteceria se a maconha fosse legalizada no Brasil, pelo menos para uso medicinal?  Muitos especialistas temem que o propósito seja desvirtuado como aconteceu no Colorado. “Em primeiro lugar, não existem evidências comprovadas de que fumar maconha faz bem à saúde”, diz o psiquiatria Ronaldo Laranjeira.

“Além disso, grande parte das pessoas que possuem licença para adquirir maconha medicinal nos Estados Unidos sequer tem problemas graves de saúde”, afirma. Para ele, essa é uma situação que poderia se repetir em qualquer país, inclusive no Brasil.

Laranjeira não se opõe ao uso de medicamentos que contêm substâncias presentes na maconha. É o caso do canabidiol. Atualmente a importação de remédios feitos a partir de componentes da maconha não é liberada no Brasil. Só pode ocorrer com autorização judicial.

Famílias de pacientes que sofrem com doenças graves (como epilepsia resistente a qualquer medicamento convencional) depositam esperança no tratamento com produtos como o spray Sativex, do laboratório britâncio GW Pharmaceuticals.

É compreensível que as famílias tenham pressa, mas o conhecimento científico sobre os benefícios e a segurança desses produtos é bastante limitado.

Uma pequena pesquisa realizada nos Estados Unidos com pais de crianças que sofrem convulsões frequentes, publicada no ano passado, trouxe alguns dados. Participaram apenas 19 famílias que trataram os filhos com maconha com alto teor de canabidiol.
Duas famílias (11% da amostra) declararam que a criança ficou completamente livre de convulsões. Oito famílias (42%) observaram redução superior a 80% na frequência das crises. Seis famílias (32%) notaram redução de até 60% na frequência dos episódios.
 
Isso não significa que fumar maconha faça bem à saúde. “Usar um componente presente na maconha como medicamento, aprovado de forma adequada pelas autoridades do país, é uma coisa”, diz Laranjeira. “Fumar maconha, acreditando que isso trará benefícios médicos é outra. Não existem evidências capazes de sustentar essa ideia”.

Quem defende a legalização da maconha argumenta que os benefícios superariam as possíveis consequências negativas. A medida evitaria prisões por porte da droga, reduziria os lucros dos traficantes e permitiria que os recursos do Estado fossem direcionados a combater crimes mais sérios e violentos. Há quem sustente que a legalização não aumentaria o consumo da droga entre os jovens.

Quem é contra a legalização argumenta que os possíveis benefícios são tímidos diante das consequências adversas. A decisão facilitaria o acesso dos jovens à droga, aumentaria os acidentes de trânsito e os custos dos tratamentos de saúde física e mental. Os próximos dois anos, segundo Sabet, serão cruciais para saber qual dos dois lados tem razão.

(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/cristiane-segatto/noticia/2014/08/o-lado-b-da-maconha-medicinal.html

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