quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Armas nucleares, não está pronto.

Uma nova e ampla fábrica em Kansas City, no Missouri, produz as entranhas mecânicas das ogivas atômicas dos Estados Unidos.
Maior que o Pentágono, cheia de equipamentos futuristas e milhares de trabalhadores, a fábrica, inaugurada em agosto, moderniza as armas envelhecidas que o país pode disparar de mísseis, bombardeiros e submarinos.
National Nuclear Security Administration/The New York Times
Obama expandiu instalações para produção de armas nucleares, como o Complexo Y-12, no Tennessee
Obama expandiu instalações para produção de armas nucleares, como o Complexo Y-12, no Tennessee
Ela faz parte de uma onda nacional de revitalização atômica que inclui planos de uma nova geração de veículos para transporte de armamentos. Um recente estudo federal calculou o preço total em US$ 1 trilhão (R$ 2,4 trilhões) nas próximas três décadas.
Essa expansão ocorre sob um presidente que fez do desarmamento um dos principais objetivos da política de defesa americana.
A ideia era que uma reconstrução modesta do complexo nuclear decadente do país acelerasse a reposição de armas, aumentando a confiabilidade do arsenal e abrindo caminho para tratados que reduziriam de maneira significativa o número de ogivas nucleares.
Em vez disso, por causa de acordos políticos e de crises geopolíticas, o governo Obama está se envolvendo em uma extensa reconstrução atômica, enquanto consegue apenas uma modesta redução de armamentos.
Com a Rússia no rumo bélico, a China pressionando com suas reivindicações territoriais e o Paquistão expandindo seu arsenal, as chances gerais para o legado de desarmamento do presidente Obama parecem cada vez mais tênues, segundo analistas.
O Congresso manifestou menos interesse nas reduções atômicas do que em parecer firme no confronto crescente entre os governos de Washington e Moscou.
"O modificador de jogo mais fundamental é a invasão da Ucrânia por Putin", disse Gary Samore, principal assessor nuclear de Obama em seu primeiro mandato e hoje professor em Harvard. "Ela tornou politicamente impossível qualquer medida para uma redução unilateral do arsenal."
Isso é ótimo para os "falcões". Eles creem que os investimentos colocam os EUA em posição mais forte em caso de uma nova corrida armamentista. Na verdade, as fábricas que Obama aprovou para uma força menor de armas mais precisas e confiáveis poderia, sob outro presidente, permitir a rápida expansão do arsenal.
No final, porém, a realidade orçamentária pode ter mais força que as filosofias nucleares para conter a escalada atômica. "Não há dinheiro suficiente", disse Jeffrey Lewis, do Instituto de Estudos Internacionais em Monterey, especialista no esforço de modernização. "Será um fracasso."
Em relatórios abertos e secretos para o Congresso, Obama expôs seus planos de renovação atômica, cujo custo o Departamento de Orçamento do Congresso estimou em US$ 355 bilhões (R$ 852 bilhões) nos próximos dez anos. Mas esse é apenas o início.
O preço vai disparar depois de dez anos, quando mísseis, bombardeiros e submarinos feitos no século passado chegarem ao fim de suas vidas úteis e forem construídos substitutos.
O principal trabalho na fábrica de Kansas City, que substitui uma instalação mais antiga que era constantemente inundada, é prolongar a vida de uma ogiva de submarino chamada W-76, que já tem 40 anos. Aproveitando milhares de peças, os trabalhadores tentam fazê-la durar 60 anos -o triplo do planejado originalmente.
Mas, se a fábrica de Kansas City é a joia da coroa no esforço de modernização, outros projetos são o lembrete de que muitos bilhões ainda deverão ser gastos.
No Laboratório Nacional Los Alamos, no Novo México, berço da bomba atômica, planos de um novo complexo para produzir combustível de plutônio surgiram há uma década, com orçamento de US$ 660 milhões (R$ 1,58 bilhão).
Mas grupos antinucleares divulgaram detalhes embaraçosos, como a descoberta de uma falha geológica no local. O custo estimado disparou para US$ 5,8 bilhões (R$ 13,9 bilhões), e em 2012 o Obama suspendeu o projeto.
E o custo de um projeto de atualização do Complexo de Segurança Nacional Y-12 em Oak Ridge, no Tennessee, subiu de US$ 6,5 bilhões (R$ 15,6 bilhões) para US$ 19 bilhões (R$ 45,6 bilhões). O governo Obama suspendeu o projeto, e o laboratório está lutando para modificá-lo.
A diferença gritante entre planos de trilhões de dólares e orçamentos apertados começa a chamar a atenção de Washington.
Uma nova geração de mísseis, bombardeiros e submarinos "é impraticável", declarou em julho um painel independente bipartidário encomendado pelo Congresso e o Departamento da Defesa. O investimento total, segundo o painel, "provavelmente sairia às custas de melhoramentos necessários nas forças convencionais".
Em agosto, a Casa Branca anunciou que revisaria os planos de gastos atômicos, preparando-se para o pedido de orçamento do ano que vem ao Congresso, que definirá os gastos federais para o ano fiscal de 2016.
"Este é o orçamento do legado de Obama", disse uma autoridade graduada, sob a condição do anonimato por causa da delicadeza política do tema. "É sua última chance de fazer as opções difíceis e definir prioridades."
Tradução de LUIZ ROBERTO GONÇALVES 
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/09/1524209-eua-intensificam-renovacao-do-arsenal-de-armas-nucleares.shtml

O verdadeiro problema do projeto atômico iraniano

O final da segunda guerra mundial deixou vários legados ao mundo e à humanidade, entre eles o fim da ocupação japonesa sobre as coréias e sua respectiva divisão entre Norte e Sul. A criação da ONU e seu conselho de segurança, além de um novo paradigma de segurança mundial: as potências (EUA, Russia, França, Reino Unido e China- países fixos no conselho de segurança da ONU) garantirão a paz e a ordem com suas bombas atômicas.
Desde o fim da segunda guerra mundial, ditas potências não permitiram que houvesse uma proliferação do armamento nuclear mundial. Subornaram, destruíram e pressionarem países para desmantelar ou não começar seus programas atômicos. Afirmaram garantirem a paz mundial sobre a premissa que ninguém se meterá com potências que detenham bombas atômicas. Sendo este o grande motivo pelo qual países como Japão, Coréia do Sul e até mesmo a Alemanha, hoje em dia, não possuem um arsenal nuclear de guerra.
As únicas exceções a regra são Índia e Paquistão que desde a década de 70 possuem programas nucleares ambos desenvolvidos de forma concomitante por EUA e o Bloco Soviético respectivamente. Ambas as potências não podiam permitir que o país vizinho tivesse bomba e seu aliado também, pois tal qual o paradigma citado acima, o fato de “ter as bombas” é que garante o não acontecimento de guerras. Situação esta muitas vezes apelidada de “A PAZ ATÔMICA”.
Já desde o final dos anos 90 com a queda do bloco soviético a Coréia do Norte se viu ameaçada pelos países alinhados aos EUA e decidiu “acelerar” o projeto atômico. Dentro das premissas de Kin Jung Sung (pai de Kin Jung Il e avô do atual presidente do país) estava que somente o arsenal atômico pode dar o poder de barganha suficiente para amedrontar o mundo ocidental capitalista, e assim, manter o país longe da bancarrota econômica.
O teste realizado no dia 12 de fevereiro deste ano abriu a brecha para o rompimento do paradigma da paz atômica. Junto a isso trouxe duas certezas sobre a relação Irã-Israel, a primeira que sanções diplomáticas, econômicas, isolamento e pressão mundial não serão suficientes para parar o programa nuclear iraniano. A segunda certeza é que Israel tem razão quando diz que o maior problema de um Irã nuclear não é só o possível ataque ao território israelense, mas junto a isso o perigo de uma nova cara do terrorismo mundial agora armado com urânio enriquecido.
Nos últimos 20 anos grande parte do terrorismo mundial vem sendo armado, treinado e subsidiado por grupos terroristas islâmicos apoiados pela Irã. Atentados na Argentina, EUA, Londres, Turquia e em países africanos só reforçam a relação do país persa com estas diversas organizações e seu poder de destruição. Centenas de pessoas foram mortas nestes diversos atentados e na maioria dos casos os responsáveis pelo planejamento destas ações tiveram passagem ou treinamento financiado pelo governo de Ahmadinejad.
Na ocasião dos testes na Coréia diversos engenheiros iranianos estavam presentes para aprender do programa nuclear e levar para casa as lições aprendidas. A partir de agora passo a trazer hipóteses do desenrolar do programa nuclear iraniano e suas consequências para o mundo.
O primeiro cenário é que 48hs depois de conseguir desenvolver uma bomba atômica no Irã, a Arábia Saudita também terá bombas para manter o equilíbrio na região tal qual India-Paquistão. Porém, logo após a Arabia Saudita, o Egito como país líder da Liga árabe também terá. E assim sucessivamente até que dezenas de países “democráticos e não democráticos” terão bombas atômicas e todo dia estaremos escutando ameaças uns contra os outros. Até o ponto do primeiro líder/ditador/louco de uma nação apertar o botão.
Segundo cenário ainda mais amedrontador é o desenvolvimento de um arsenal atômico por parte do Irã que poderá ser comprado no mercado negro de mercenários tal qual são comprados mísseis e armas por todas organizações terroristas na atualidade. Dito cenário poderá desencadear um novo fenômeno mundial que este sim seria incontrolável. A ameaça atômica em cada grande assalto, luta civil ou atentado.
Não consigo nem imaginar as consequências de haver terroristas em qualquer lugar do globo terrestre chantageando o mundo sobre o perigo de uma bomba atômica (de maior ou menor porte) explodir no centro de qualquer cidade. Porque se Kim Jong Un e seu país de soldados subnutridos está conseguindo fazer o mundo cancelar dívidas, abrir mercados… imagino que o terceiro maior produtor de petróleo, e maior financiador do terrorismo mundial fará.http://www.conexaoisrael.org/o-verdadeiro-problema-do-projeto-atomico-iraniano/2013-03-04/colaborador
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PAÍSES COM ARMAMENTO NUCLEAR
VEJA AQUI
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADses_com_armamento_nuclear

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ARMAS NUCLEARES VOLTAM À PAUTA

Fatos recentes mostram que a desconfiança mútua está crescendo e várias pessoas voltam a pensar sobre a corrida armamentista nuclear.

Os Estados Unidos acusaram a Rússia de violar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, conhecido como Tratado INF, assinado por Mikhail Gorbachev e Ronald Reagan em 1987 Foto: AP
Aleksandr Bratérski

Durante uma excursão para um bunker da Guerra Fria transformado em museu, um grupo de estudantes russos examinou um site de lançamento artificial. O simulador permite fazer um "lançamento nuclear." As crianças foram capazes de direcionar suas ogivas virtuais para qualquer país do mundo. A maioria dos estudantes escolheu os Estados Unidos.
Essa história, publicada nas redes sociais por um dos professores, cujo filho também participou da excursão, foi um choque para aqueles que consideram a ideia de uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a Rússia como uma relíquia esquecida no passado.
No entanto, a desconfiança mútua está crescendo e várias pessoas voltam a pensar sobre a corrida armamentista nuclear. 
"Não enfrentamos o uso de armas nucleares por muitos anos, desde 1945", disse o general aposentado Eugene Habiger, que foi o comandante do Comando Estratégico dos EUA. “Hoje, as pessoas nascidas depois de 1990 nunca se preocuparam com armas nucleares. Eles não viram armas nucleares na tela de radar, nunca se esconderam embaixo da mesa. Eles têm outras prioridades, outras preocupações.”
As autoridades de ambos os lados do Atlântico estão dispostas a tornar a nova guerra nuclear uma questão de importância. Em julho passado, os Estados Unidos acusaram a Rússia de violar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, conhecido como Tratado INF, assinado por Mikhail Gorbachev e Ronald Reagan em 1987. O acordo previa a eliminação dos mísseis balísticos e de cruzeiro, nucleares ou convencionais, cujo alcance estivesse entre 500 km e 5.500 km.
De acordo com os Estados Unidos, a Rússia violou o acordo lançando um míssil de cruzeiro. Em resposta, a Rússia declarou que foram os Estados Unidos que violaram o acordo, testando um sistema de defesa aérea que destrói mísseis balísticos.
Em meados de setembro, o vice-secretário dos Estados Unidos para Segurança Internacional e Controle de Armas, Rose Gottemoeller, visitou Moscou para participar de uma reunião bilateral para discutir as violações do tratado, no entanto, nenhum dos lados ficou satisfeito com as negociações.
Funcionário do Departamento de Estado dos EUA que trabalhou na administração de Reagan e que ajudou a negociar o tratado INF, Frank Ordan chamou o documento de "pedra angular do controle moderno de armas russas". Além disso, muitos princípios e termos do tratado INF foram realizadas no Tratado de Redução de Armas Estratégicas START.
“Se houver problemas ou violações do INF, o mundo deve entender que o tratado START também será violado”, diz Orban. “As violações do tratado INF, assinado em 1987, são extremamente perigosas", completou.
No entanto, a maioria dos russos não sabem o que é o tratado de 1987.
 

Mais armas

Em conformidade com o acordo de INF, a URSS destruiu 1.752 mísseis e desativou 845 lançadores. Os Estado Unidos desmantelaram 850 mísseis e outros 283 lançadores.
No entano, podem aparecer novas armas para substituir esses. O vice-primeiro-ministro da Rússia, Dmítri Rogôzin, responsável pelo complexo militar-industrial russo, anunciou recentemente que o país está acelerando o desenvolvimento de suas capacidades de dissuasão nuclear. O projeto será concluído até 2020.
No início de outubro, o Departamento de Estado dos EUA declarou que, pela primeira vez na história, a Rússia ultrapassou os Estados Unidos no número de ogivas nucleares(link).

http://www.defesanet.com.br/nuclear/noticia/17287/Armas-nucleares-voltam-a-pauta
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Ética e armas nucleares

As questões éticas levantadas pelas armas nucleares podem ser divididas em dois grupos: questões acerca do uso efectivo de armas nucleares na guerra e questões acerca da posse de armas nucleares para fins de dissuasão. As questões do primeiro género são normalmente respondidas por referência aos requisitos do jus in bello. Poderá o uso de armas nucleares satisfazer os requisitos de discriminação e proporcionalidade? Tem parecido à maior parte (embora de modo nenhum a todos) os teóricos da moral que há alguns usos possíveis de armas nucleares que não violariam nenhum dos requisitos. Contudo, tal como tem sido realmente praticada, a dissuasão tem sempre envolvido a ameaça de usar armas nucleares para a destruição intencional de populações civis, e isto violaria claramente o requisito da discriminação e quase de certeza também o da proporcionalidade. (Finnis et al., 1987, Cap. I.) Este facto levanta questões fundamentais para a moralidade da dissuasão nuclear: deve a dissuasão depender da ameaça do uso de armas nucleares de uma maneira que seria imoral? Se sim, quais são as implicações disto para a moralidade da dissuasão?
Isto envolve tanto questões morais como estratégicas. Suponhamos que sabemos quais os usos possíveis de armas nucleares que seriam aceitáveis. Teríamos então de perguntar se esses usos são suficientemente abrangentes, de modo a que a ameaça de usar armas nucleares apenas dessas maneiras possa efectivamente deter quaisquer ameaças que pensemos ser necessário deter. Esta é uma questão de teoria estratégica. Dado o facto de todas as políticas actuais de dissuasão envolveram ameaças explícitas de destruição de populações civis, juntamente com o facto de que não houve qualquer desafio significativo dentro da comunidade estratégica à ideia de que estas ameaças são necessárias, é razoável concluir que há um consenso alargado entre os estrategos de que uma dissuasão viável e efectiva exige a ameaça do uso de armas nucleares de maneiras que seriam condenadas pelos requisitos do jus in bello.

1 O argumento das intenções erradas
Se assumirmos que a dissuasão depende da ameaça de usar armas nucleares de maneiras que seriam moralmente erradas, confrontamo-nos com um problema que gerou considerável discussão na literatura da ética da dissuasão. Uma vez que parece que, para ser credível, as ameaças de dissuasão nuclear têm de ser sinceras ― isto é, devem ser apoiadas por uma intenção (a que é dada expressão intencional nos planos e preparações minuciosos para o disparo de armas nucleares) de as cumprir no caso de serem desafiadas; por conseguinte, a dissuasão implica uma intenção condicional de usar armas nucleares de maneiras que seriam imorais. Se, além disto, aceitarmos o princípio de que é errado tencionar fazer o que seria errado fazer (normalmente referido como 'Princípio das Intenções Erradas'), segue-se que a dissuasão é errada.
Este argumento, a que podemos chamar o Argumento das Intenções Erradas, teve uma enorme influência, em particular nos círculos teológicos onde é largamente aceite que o carácter moral de um acto é principalmente determinado pela intenção que define a sua natureza intrínseca. (É defendido, por exemplo, em Finnis et al., 1987.) Contudo, os críticos atacaram qualquer das três premissas do argumento. Alguns tentaram estabelecer a alegação de que a dissuasão poderia ser baseada adequadamente em ameaças sinceras de usar armas nucleares apenas de maneiras moralmente aceitáveis. Por exemplo, estes críticos propuseram estratégias de dissuasão que renunciam a qualquer intenção de fazer mal a inocentes e que, em vez disso, ameaçam a destruição apenas de instalações militares. (Veja-se, por exemplo, Ramsey, 1968.) Estas propostas apelam com frequência à ideia de que a dissuasão seria em parte garantida pelo facto de que os potenciais adversários nunca poderiam estar completamente certos de que a renúncia a usos imorais era sincera. (Kenny, 1985.) Contudo, estas estratégias esterilizadas têm sido fortemente criticadas com base no facto de que mesmo a maior parte dos usos de armas nucleares contra alvos puramente militares violariam o requisito da proporcionalidade, quer directamente, por intermédio dos seus efeitos incidentais imediatos nas populações civis, quer indirectamente, por intermédio do risco de escalada para níveis de violência que seriam directamente desproporcionados. Outros críticos do Argumento das Intenções Erradas alegaram, embora de forma pouco convincente, que a dissuasão é ou poderia ser baseada em ameaças que são de facto bluffs, de modo que a dissuasão não necessita de envolver intenções erradas. (Veja-se Hare em Cohen e Lee, 1986.) Outros ainda ou rejeitaram o Princípio das Intenções Erradas, ou alegaram que não pode ser aplicado ou que é superado nos casos em que a formação de uma intenção putativamente errada poderia provavelmente impedir a ocorrência de consequências desastrosas, como muitos alegam ser verdade das intenções exigidas pela prática da dissuasão. (Kavka, 1987, Caps. 1 e 2.)
Esta última perspectiva parece ter a aprovação da moral de senso comum. Se há uma objecção moral à dissuasão, ela não se baseia completamente na consideração das consequências, não é que a dissuasão implique que as pessoas tenham intenções erradas (que, em qualquer caso, não são as nossas intenções, uma vez que nós, como cidadãos vulgares, não podemos controlar o uso de armas nucleares e, por conseguinte, não podemos ter quaisquer intenções relativamente ao seu uso). A objecção à dissuasão é antes que ela implica um risco sério de qualquer dia, ao cumprirmos as nossas ameaças de dissuasão, nos envolvermos, por intermédio da acção daqueles que contratamos para implementar a política, em violência terrorista numa escala sem precedentes. Além disto, ao arriscarmo-nos a esta futura acção incorrecta, impomos agora deliberadamente um risco de morte e de dano a milhões de pessoas inocentes como um meio de reduzir os riscos que nós próprios enfrentamos. Se acreditamos que as consequências não são tudo o que importa (e talvez até mesmo se acreditamos que são), então estes factos relacionados acerca da dissuasão estabelecem uma forte presunção moral contra ela.
Algumas pessoas acreditam que a presunção contra a dissuasão é absoluta ― isto é, que não pode ser superada por considerações que as compensem. Estas pessoas procuram com frequência defender a sua posição apelando ao princípio cristão tradicional de que não se pode fazer mal donde possa resultar um bem ― por exemplo, para impedir que um mal maior seja feito a outros. Contudo, a maior parte de nós acredita que a objecção à dissuasão pode em princípio ser superada pela consideração das consequências (ou talvez por outro dever compensatório, tal como o dever do estado de proteger os seus cidadãos). A presunção contra a dissuasão poderia ser superada se as consequências esperadas do abandono da dissuasão fossem muito piores do que as de continuar a praticá-la. Portanto, mesmo se acreditamos que as consequências não são tudo o que importa, não podemos evitar, a menos que sejamos absolutistas, examinar a dissuasão à luz das suas consequências esperadas.

2 Dissuasão e consequências
A sabedoria convencional é que as consequências esperadas do abandono da dissuasão seriam de facto consideravelmente piores do que as de continuar a praticá-la. Contudo, este ponto de vista está longe de ser obviamente verdadeiro. Para ver porque é assim será útil introduzir um sentido técnico do termo 'guerra'. Como é vulgarmente usado, um ataque para o qual não haja resposta militar pode ser considerado uma guerra. Mas, para os propósitos da nossa discussão, estipulemos que uma guerra tem de envolver ataques por cada um dos dois lados contra o outro. O termo 'conflito' pode referir-se seja a um ataque ou a uma guerra no nosso sentido.
O objectivo principal de uma política de dissuasão nuclear é impedir a perda ou o compromisso da soberania e da independência política de um estado, principalmente por intermédio da prevenção de ataques contra o estado (uma vez que é sendo atacado que um estado tem mais probabilidades de ver a sua independência comprometida). Mas a dissuasão é apenas um meio de reduzir o risco de ataque. Quais são os melhores meios de impedir um ataque depende de quais são as causas prováveis de ataque. Isto porque a prevenção de um ataque exige a supressão da causa e há várias causas possíveis de ataque. Por exemplo, se a ameaça de ataque deriva da possibilidade de um acto calculado de agressão cujo fim é atingir determinado objectivo político, então deve-se visar deter o ataque, seja aumentando os custos e os riscos para o atacante seja demonstrando uma capacidade defensiva tão forte que convença os potenciais agressores de que um ataque seria fútil. (Aqui e nos outros lados estou a assumir que o ataque seria injusto.) Se, por outro lado, a ameaça de ataque surge devido ao facto de parecer provável que um potencial adversário ataque preventivamente como resultado do receio de ser atacado primeiro, então procurar fortalecer a dissuasão pode ser contraproducente. Uma vez que é possível que seja a nossa própria postura dissuasória a constituir o problema. Em vez disso, o que é necessário é agir de modo a assegurar ao potencial adversário que as nossas intenções não são agressivas. (O reconhecimento de que os preparativos militares podem provocar um ataque em vez de impedi-lo levou a propostas, principalmente na Europa Ocidental, de reestruturação das forças não nucleares de modo a que fisicamente não possam ser usadas para operações ofensivas.) Há outras causas possíveis de ataque que uma política de dissuasão pode ser em larga medida incapaz de eliminar ― por exemplo, ataque por acidente, ou inadvertência, ou como resultado de alguma outra forma de mal-entendido. Como no caso de um ataque preventivo, a prática da dissuasão pode até exacerbar o risco de ataque com origem nestas fontes.
Não apenas a dissuasão não é o único meio de tentar evitar a guerra, como a prevenção da guerra não é o único objectivo de uma política de segurança. Por exemplo, outro objectivo importante é reduzir os custos esperados (incluindo os custos para as pessoas fora do nosso próprio estado) de qualquer conflito que possa ocorrer. Contudo, há um antagonismo entre este objectivo e o objectivo de impedir um ataque. A dissuasão funciona aumentando os custos esperados do ataque de um atacante potencial. Porque quanto mais provável for que um ataque leve a uma guerra que seja cara para o atacante, mais relutância (mantendo-se o resto igual) terá ele em atacar; enquanto que quanto mais baixo forem os custos esperados de atacar, mais seguro e mais racional parecerá a um estado recorrer ao ataque como um meio de alcançar os seus fins. Mas um estado que pratique a dissuasão não pode aumentar os custos da agressão para um atacante sem aumentar os custos para todos os partidos. Por conseguinte, é necessário fazer uma permuta entre os dois objectivos de reduzir a probabilidade de ataque e reduzir a magnitude dos danos que ambos os lados têm probabilidade de sofrer em caso de um conflito. A dissuasão soluciona esta permuta dando mais peso ao objectivo de prevenir um ataque.
A visão comum de que a dissuasão reduz o risco de guerra nuclear é por conseguinte enganadora, a menos que o que se entende por guerra nuclear seja simplesmente um ataque nuclear unilateral. A prática da dissuasão por um estado de facto aumenta a probabilidade de uma guerra nuclear de larga escala relativamente ao que seria de outra forma. Ao ameaçar com a guerra nuclear como penalização de um ataque, um estado manipula o risco de guerra nuclear como um meio de impedir ataque.
É importante ter em mente que a permuta entre a probabilidade de ataque e os custos do conflito não pode ser feita na base apenas de critérios prudenciais ou de interesse próprio. Se a guerra ocorresse entre grandes potências, os efeitos seriam sofridos pelas pessoas de todo o mundo. Pensemos, por exemplo, na situação na Europa. O establishment da defesa da Europa Ocidental está interessado em ligar o destino dos Estados Unidos ao da Europa fazendo as coisas de modo a que qualquer ataque à Europa Ocidental tenha uma alta probabilidade de originar uma guerra nuclear global. Estes teóricos querem que os soviéticos acreditem que não podem fazer uma guerra confinada ao território europeu, mas que em vez disso envolver-se-ão numa guerra nuclear estratégica com os Estados Unidos se alguma vez começarem uma guerra na Europa. Eles acreditam que é este projecto de guerra nuclear em larga escala envolvendo a própria União Soviética que fornece a dissuasão mais efectiva à agressão soviética. Mas repare que o que aumenta a dissuasão da agressão convencional é a criação deliberada de uma guerra nuclear de larga escala. (Assim o risco de um ataque convencional é tanto maior quanto mais estáveis forem as relações de dissuasão nuclear; enquanto o risco de ataque convencional é menor quanto maior for o risco de escalada para uma guerra nuclear. A escolha entre um risco menor de ataque convencional e custos esperados menores no caso de um ataque é uma instância de um tipo de permuta identificado anteriormente.)
O ponto importante aqui é que a prática da dissuasão na Europa coloca o mundo inteiro em risco por causa da segurança da Europa Ocidental. É evidente que os riscos para as pessoas inocentes fora do bloco soviético não são intencionais. Portanto, a este respeito são diferentes dos riscos que os Estados Unidos impõem a pessoas inocentes dentro da União Soviética. No entanto, a criação voluntária destes riscos é profundamente injusta. Para o ver necessitamos apenas de consultar as nossas próprias crenças acerca do problema da proliferação nuclear. Pense no conflito entre Israel e as várias nações árabes. O resultado deste conflito é de enorme importância para ambos os grupos. Não pode ser considerado um assunto trivial. Todavia, consideraríamos terrível que os vários estados da região adquirissem importantes arsenais nucleares, pondo desse modo em risco as vidas das pessoas em todo o lado, e colocando em risco a própria existência das gerações futuras, por causa dos seus interesses e preocupações paroquiais. Mas, se a nossa indignação por sermos postos em risco deste modo seria justificada, as pessoas do mundo que são postas em perigo pelas políticas das potências nucleares actuais têm também o direito de condenar as práticas que as expõe injustamente a risco.
Voltemos agora à questão de saber se a dissuasão pode ser justificada na base das suas consequências esperadas. Enquanto a perspectiva convencional é a da que qualquer presunção moral contra a dissuasão pode ser destruída pelo valor devastador da dissuasão para prevenir catástrofes, parece que, pelo contrário, uma consideração das consequências esperadas estabelece no entanto uma presunção adicional contra a dissuasão. O argumento para esta alegação pode ser expresso em termos enormemente simplificados como se segue. Suponhamos que examinamos duas políticas possíveis amplamente definidas dos Estados Unidos e dos seus aliados ― a saber, a dissuasão e a defesa não nuclear ― e dois dos seus mais importantes resultados desastrosos possíveis ― a saber, o domínio soviético e a guerra nuclear em larga escala. Parece claro que a guerra nuclear seria um resultado pior do que o domínio soviético, mesmo se tivermos em conta apenas os interesses dos Estados Unidos e dos seus aliados, pondo de lado os interesses do bloco soviético, dos países neutros, e das gerações futuras. É igualmente verdade que a dissuasão implica um risco maior de guerra em larga escala do que a defesa não nuclear. Segue-se que a dissuasão implica um risco maior do pior resultado. Assim cabe ao defensor da dissuasão o ónus de mostrar que este facto é superado por outras considerações.
Alguns defensores da dissuasão procuraram fazer isto argumentando que a defesa não nuclear tem um risco global de desastre mais elevado. O argumento é que a probabilidade de domínio sob uma política de defesa não nuclear é consideravelmente maior do que a probabilidade de uma guerra nuclear em larga escala sob a dissuasão, enquanto a probabilidade de domínio sob a dissuasão é ou menor do que ou aproximadamente igual ao de uma guerra nuclear em larga escala sob uma política de defesa não nuclear. Suponhamos que estas alegações são verdadeiras, como podem bem ser. Continua a existir um dilema. Deveremos optar por uma probabilidade menor de um desastre a custo de uma probabilidade mais elevada do pior desastre, ou deveremos visar minimizar a probabilidade do pior desastre a custo de aceitar uma probabilidade global mais elevada de um desastre? Em resumo, enfrentamos a espécie de permuta identificada anteriormente entre minimizar aprobabilidade de desastre e minimizar a provável magnitude do desastre. (Kavka, 1987, Caps. 3 e 6; e McMahan, 1989.)
Dada a natureza dos estados e da sociedade internacional, toda a política a respeito de problemas de guerra, paz e segurança tem graves riscos. Contudo, se os riscos associados às nossas políticas são principalmente riscos que escolhemos aceitar ou se são principalmente riscos que impomos a outros pode ser moralmente importante. Se acreditamos que há uma objecção de princípio à imposição de riscos a inocentes a fim de reduzir os nossos próprios riscos, então haverá uma presunção moral contra a dissuasão. E, se houver tal presunção, não será fácil de superar. Uma vez que, como vimos, não só não é óbvio que o abandono da dissuasão tivesse consequências que fossem consideravelmente piores do que as resultantes de se continuar a praticá-la; não é mesmo claro que o abandono da dissuasão tivesse de todo piores consequências.
http://www.filedu.com/jmcmahanguerraepaz.html

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