segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

TODO MEU AMOR PARA JÉSSICA

Foto Ana Luz. Jornalista do Pará.
Eu, a moça carente e tão perdida na vida tresloucada, implorando amor de um homem, assim, meio parecida com a bordeline da série Dupla Identidade  da Globo ( refiro-me à nossa conversa do sábado).
Chorava por ter perdido um grande amor. O que é mesmo o grande amor? Se amor é matéria de somos feitos, presentificados na vida e, transbordados para a humanidade?
 1985. Fóbica, de novo em casa,  colada à mãe e ao pai, revolvo dar aula particular em casa.Quem mandou fugir e quebrar os padrões? 
 Nem ao curso de Letras ia mais 1a, trancado no segundo ano. A agorafobia, a grande dor e salvação. Dei um breque nas loucuras para as quais não tinha alma. Careta até não poder mais!
E, em 1997, botei anúncio na balança da farmácia do Pedro. E invento a minha sacratíssima sala de aula, meu tempo, templo; caverna de Platão, luz de sangue, que eu trouxera de vivências trágicas.
Alunos do colégio Bandeirantes. Tantos orientais que deram um norte  com a disciplina dos pais. Não queria mais ser  artista: desenhista,bailarina,cantora. E desenhei a sina , espécie de dever de ensinar a nova geração. O inconsciente nos direciona se formos capazes de flutuar na vida. Isso sei fazer!
 O primeiro vestibulando de medicina passa, o segundo, o vigésimo tão tímido. A mãe dele fala de mim ao diretor do colégio que me convida a dar aula lá. Tentei  umas semanas, mas o compasso de escola me oprimia. Porque o contato com os alunos era gelado: “Sua tarefa é ensinar. Educar é com os pais'.
Abandono carteira assinada, salário seguro e alto e de volta  aos risco das aulas particulares e à casa na rua Castro Alves que tinha alugado. Pensava fazer uma escola, uma casa com biblioteca lugar pra palestras pros alunos. Mas que jeito? Não se cria escola dando aula particular! Volto a dar aula em casa, depois numa sala comercial, fui, voltei e voltei. A mesa, as duas cadeiras. Janelas.
Nem era mais agorafóbica.
 Que sentido tem esta vida, preparando moços para medicina? Sem isso de sentido, que me guio pela intuição. Quantos?  Perdera contato. Alguns nem me ligavam pra contar o sucesso. Um dia os encontrava na rua, eles, de avental branco. “Passei, Rose! Esqueci de ligar”.
Veio a rede social. Agora, em 2014 vejo que uns já têm filhos e me espanto com o tempo.
 Porque, Jéssica, volto  à gaiola a que você se referiu no texto que me escreveu. As grades da escola prendem, sim. Rubem Alves dizia. A minha gaiola me banira chances de .criação.  Aluna medíocre olha a janela enquanto os professores falam.
Na escola minúscula que inventei não acho que alguém possa  escrever mal. Porque é do tecido texto que a alma se revela. Busco clarear o texto e levá-lo à lume. Proponho um voo pras luas de dentro, olhando pra fora das grades , tangenciando o mundo, porque fugir dele é loucura. Só pros grandes artistas...
Buscava  - e busco - um modo de engendrar o espírito da aventura ( a aventura de pensar escrevendo, levando o texto à janela como se fosse uma torta de maçãs). 
E você, Jéssica, é a minha mais fiel aprendiz.  Veio por meio da Gabriela que chegou pela Vanessa, pela Ingrid - que não sei mais por intermédio de quem. Foi você quem me mandou mais alunos, falava de mim a tantos! A última mensageira sua foi a Marina , irmã do André -  que neste ano termina o curso.
Quanto às nossas aulas, fossem na rua Espírito Santo, na saleta que aluguei em 2007, quando minha família queria me expurgar; fosse na rua Safira, quando houve a reforma e o chuveiro de  piolhos de pombo.  Você preparando-se para a Unicamp e os piolhos, despencando sobre nossos braços. “ Continua, professora. O vestibular é amanhã!”. E meu medo de você ficar doente e perder a prova?
E a sua mãe me levando lanches, ela, enxergando o drama. A  Fernanda, sua amiga, a mãe dela me dando pastéis da feira?
O que posso lhe dizer mais?  Eu lhe agradeço, porque, ainda que todos sempre me escrevam e digam o quanto fui importante na vida deles – você tem sido a mais insistente. E eu agradeço. Preciso disso!
Nós, tão inseguros, nesta vida desabrigada de amor!
Um beijo pra você. Outro pra sua magnífica mãe.

1a: depois terminei o curso, tenho diploma assinado por Dom Evaristo Arnshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Evaristo_Arns



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