sábado, 22 de novembro de 2014

DISSERTAÇÃO. CARTA ABERTA AOS JOVENS MÉDICOS LEITURA


Eduardo Aquino

Carta aberta aos jovens médicos (parte 2)
PUBLICADO EM 02/02/14 - 03h00

Meus jovens colegas: darei prosseguimento a esta missiva, que pretende partilhar minha vivência na arte médica aos que começam a trilhar essa caminhada densa e desafiadora. São tantas as experiências, sofrimentos, superações e gratificações que desejaria doar, que resolvi condensar em pílulas, vivências e observações. Então, vamos lá.

1. Medicina não é profissão. Que me desculpem a maioria dos doutores, mas sem dom, vocação, talento, não haverá faculdades que transforme qualquer outra atividade humana em médicos! Da mesma forma que um músico já nasce com ouvido absoluto o artista com traços perfeitos e naturais, verdadeiros médicos já nascem com a intuição, humanismo, compreensão e altruísmo para curar ou acolher seus semelhantes.

Forçar uma atividade tão multifacetada e sensível, equivale a forçar um destro a escrever com agilidade e espontaneidade com sua mão esquerda. E minha vida ensinou que médicos são minoria em relação aos técnicos de medicina, não a toa uma pesquisa de uns três anos atrás mostrou que após 10 anos de formado,67% se arrependeram de ter escolhido a medicina.

2. Em medicina, a clínica é fundamental. A escuta do paciente, a valorização de sua história clínica, o exame físico apurado, sua historia pessoal e familiar são essenciais para o raciocínio clínico e hipótese diagnóstica. Como diz a OMS, consulta com menos de 30 minutos é má pratica. E o que dizer das estatísticas americanas que mostram que 83% dos exames são normais e 65% das cirurgias desnecessárias?

3. Nunca busque o raríssimo, pois isso significa exames demais, e resultados de menos e paciente insatisfeito. Quem dizia isso eram os grandes mestres da UFMG, nos idos de 70-80. Assim como diziam que bons médicos passariam 80% do seu tempo corrigindo diagnósticos dos maus médicos, que sempre seriam a maioria. Quase 3/4 dos que buscam auxílio médico tem disfunções comuns, a maior parte, sintomas físicos de origem psíquica, fruto de sono ruim, sobrecarga no trabalho e outros problemas.

4. Medicina não é lugar para ficar rico. Ganhar dinheiro tem que ser uma consequência e nunca uma motivação para atender alguém. Na mercantilização da medicina, não me estranha que especialidades que mexem com estética ou fazem exames complexos sejam os mais escolhidos pelos residentes, enquanto clínicos gerais, pediatras e psiquiatras estejam em falta.

5. Terceirização e convênios: como tudo que vem dos EUA, a medicina de grupo acabou com a relação médico-paciente, baixou o nível dos atendimentos, criou a judicialização médica, fez um SUS para a classe médica, desprestigiou o médico e tirou sua independência e estímulo.

6. Politização da medicina: as brigas de ego, a vaidade, a busca de poder das entidades que nos representa criam inimizades, eleições tensas, além de ser acusada pela sociedade de corporativismo. Dois exemplos atuais foram a Lei Médica, que buscava dar exclusividade diagnóstica e terapêutica aos médicos em detrimento de outras importantíssimas profissões da área de saúde que devem agir de forma complementar. E o “Mais Médicos” em que as instituições médicas tiveram grande oposição, mas a população esmagadoramente apoiou o governo, pois há uma imensa insatisfação com os médicos públicos. Mas existem razões e erros de todos os lados.

7. Medico erra! O ser humano não é máquina e nem lidamos com uma ciência exata. Infelizmente os processos médicos viraram uma das desgraças americanas, e por temer errar e sob pressão de ser processado, médicos estão se defendendo através de exames excessivos, não assumindo os pacientes, encaminhando em demasia.

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