quarta-feira, 5 de novembro de 2014

proposta leia os textos da coletânea e produza uma dissertação que analise a proposta de professora de facilitar a escrita de Machado de Assis.

Repito
Use trechos da coletânea ( um ou dois apenas), parafraseados ou não. Entenda bem o que é a Literatura antes de se posicionar a respeito do trabalho da professora.



"Entendo por que os jovens não gostam de Machado de Assis", diz a escritora Patrícia Secco. "Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase. As construções são muito longas. Eu simplifico isso." Ela simplifica mesmo: Patrícia lançará em junho uma versão de "O Alienista", obra de Machado lançada em 1882, em que as frases estão mais diretas e palavras são trocadas por sinônimos mais comuns (um "sagacidade" virou "esperteza", por exemplo".
A mudança não fere o estilo do escritor mais celebrado do Brasil, diz Patrícia. "A ideia não é mudar o que ele disse, só tornar mais fácil."
E o plano inicial dela era descomplicar outros clássicos. A ideia nasceu em 2008, com aspirações maiores: "Montei um plano com um título de cada autor clássico para a gente tentar fazer uma versão."
Seu projeto, que também previa versões de "O Cortiço" e de "Memórias de Um Sargento de Milícias", foi liberado pelo Ministério da Cultura para captar dinheiro com lei de incentivo, mas Secco só conseguiu patrocínio para dois títulos: "O Alienista" e "A Pata da Gazela", de José de Alencar, que sai junto.
A equipe que "descomplica" o texto é formada "por um monte de gente", diz a autora, entre eles a própria e dois jornalistas amigos.
A tiragem, de 600 mil exemplares, será distribuídas de graça pelo Instituto Brasil Leitor. O lançamento será em junho, e terá direito a um túnel construído com 60 mil livros no vale do Anhangabaú, centro da cidade.
"É absurdo imaginar que a função da escola seja facilitar qualquer coisa, em vez de levar a trabalhar com as dificuldades da vida, da crítica e do conhecimento", comenta o professor da USP Alcides Villaça. Ele se diz indignado: "Apresentar como sendo de Machado de Assis uma mutilação bisonha de seu texto não devia dar cadeia?".
Outros seis mestres da USP e três da Unicamp foram procurados para dar seu parecer sobre o projeto. Nenhum quis comentar.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/cidadona/2014/05/1445858-escritora-muda-obra-de-machado-de-assis-para-facilitar-a-leitura.shtml


“Chega mais perto e contempla as palavras. Cada tem mil faces secretas sob a face neutra.” (Carlos 
Drummond de Andrade).

Nos textos literários nem sempre a linguagem apresenta um único sentido, aquele apresentado pelo 
dicionário. Empregadas em alguns contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, carregados de 
valores afetivos ou sociais.

COLETÂNEA 

"A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social.
O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades fatuais. Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro.
A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. 
Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana."
(Afrânio Coutinho)

MAIS TEXTOS:

"Arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra." (Aristóteles, filósofo grego, séc. IV a.C)
"A literatura é a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem." (Louis de Bonald, pensador e crítico do Romantismo francês, início do séc. XIX)"
"A poesia existe nos fatos." (Oswald de Andrade, poeta brasileiro, séc. XX)
“Literatura é feitiçaria que se faz com o sangue do coração humano.” (Guimarães Rosa, escritor
brasileiro, séc. XX)
http://www.ufjf.br/cursinho/files/2012/05/Apostila-de-Literatura-Silvia-Souza-Gomes-UFJF-2012.01.139.pdf

AQUI É POSSÍVEL BAIXAR O LIVRO DA PROFESSORA
A ideia nasceu depois nasceu depois que programa Ler é Fundamental, criado pela escritora Patrícia Engel Secco, quis romper a barreira que separa as pessoas do maior escritor brasileiro. "Muita gente nunca ouvir falar. O que é uma lástima. Esperamos que, com esse projeto, mas pessoas se disponham a ler o original".
Além de ser distribuído gratuitamente em versão impressa, é possível baixar a versão adaptada pela internet. Clique aqui
O Catraca Livre considera que ler Machado no original é a melhor opção, mas qualquer recurso, como esse projeto com uma linguagem mais atual e um visual facilitado que o aproxima dos leitores, não é apenas desejável, mas elogiável.
https://catracalivre.com.br/geral/rede/indicacao/projeto-adapta-machado-de-assis-para-linguagem-acessivel/



MAIS UM TEXTO....

 Em sua arbitrária simplificação de Machado de Assis, em que comete erros primários de intepretação de texto, a escritora-empresária Patrícia Secco embrutece o espírito do leitor ao falsear o mestre e descaracterizar seus personagens
Localizado nas proximidades do Viaduto do Chá, que, desde a inauguração em 1892, se tornou, durante muitos anos, o principal cartão postal da cidade de São Paulo, o Vale do Anhangabaú será palco, em junho próximo, de um evento literário inusitado — um túnel construído não por concreto, mas por 60 mil livros. Trata-se do lançamento da nova edição de uma das mais importantes obras da língua portuguesa de todos os tempos, a novela “O Alienista”, de Machado de Assis, que, depois da morte do escritor em 1908, separou-se de “Papéis A­vulsos”, o volume de contos em que fora originalmente publicado em 1882, e se tornou um livro autônomo, traduzido em vários idiomas. Mas não se trata exatamente da obra-prima de Machado — o que o leitor vai encontrar nesse lançamento faraônico é uma adaptação de “O Alienista”, coordenada pela escritora Patrícia Secco e patrocinada pelo Ministério da Cultura, por intermédio da Lei Rouanet.
“Entendo por que os jovens não gostam de Machado de Assis. Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase. As construções são muito longas. Eu simplifico isso”, disse Patrícia Secco, em 4 de maio último, numa entrevista ao jornalista Chico Felliti, da “Folha de S. Paulo”. Proprietária da Secco Assessoria Empresarial S/C Ltda., que juntamente com sua pessoa física já teve aprovados no Ministério da Cultura projetos que somam cerca de R$ 10 milhões captados, Patrícia Secco produz literatura infanto-juvenil em ritmo industrial, com mais de 200 títulos publicados, a maioria com temas da moda, como meio ambiente, direitos humanos e inclusão social. Com o propósito de facilitar a leitura de quatro clássicos da literatura brasileira, Secco pedira autorização ao Ministério da Cultura para captar R$ 1,53 milhão; por incrível que pareça, foi autorizada a captar R$ 1,45 milhão, ou seja, quase o montante que havia pedido para seu projeto. Na prática, conseguiu captar uma cifra milionária — R$ 1,039 milhão — para produzir dois livros a serem lançados num mesmo volume: “O Alienista”, de Machado de Assis, e “A Pata da Gazela”, de José de Alencar.
A princípio, a ideia de adaptar um clássico não é necessariamente condenável, especialmente se for para crianças. As adaptações de clássicos da literatura — começando pela Bíblia — devem ser tão antigas quanto o ato de ler. Em sua já clássica “Uma História da Leitura”, o argentino-canadense Alberto Manguel conta que, em 1387, John de Trevisa, que estava traduzindo do latim para o inglês a epopeia “Polychronicon”, do monge beneditino Ranulf Higden (c. 1280-1364), resolveu fazê-lo não em versos, mas em prosa, pois sabia que o público já não queria ouvir uma recitação pública da obra (que, por sinal, se tornaria muito popular no século XV), preferindo lê-la diretamente. Da mesma forma, a “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, originalmente escrita em versos, mereceu adaptações em prosa e versões condensadas para crianças, que exploram o viés aventureiro de sua viagem ao Inferno, Purgatório e Céu, transformando-o numa espécie de Julio Verne do espírito.
Uma das primeiras justificativas para se adaptar uma obra é, sem dúvida, sua extensão. Poucas crianças são capazes de ler um romance ou uma epopeia que se estende por mais de 500 páginas. A boa adaptação é uma espécie de resumo que tenta extrair a essência da obra sem desvirtuá-la. Carlos Heitor Cony, que adaptou diversos clássicos para o público infanto-juvenil, como Dostoiévski, Melville, Mark Twain, Dumas, Gogol, Eça, Manoel Antônio de Almeida e Julio Verne, ao ser indagado numa entrevista à revista “Cult” se reescrevia ou resumia os livros, respondeu: “Era uma condensação. Eu eliminava pontos mortos, alguns diálogos, detalhes técnicos. Deixava o texto mais denso. Mas preservava a história, o clima e principalmente a expectativa”. Cony foi taxativo: “O bom adaptador não falseia o original”.

Facilitação de Machado nega o escritor


Paulo Freire: pedagogia análoga à escravidão condena o pobre à fala de tijolo, como se um operário não pudesse ouvir estrelas
Paulo Freire: pedagogia análoga à escravidão condena o pobre à fala de tijolo, como se um operário não pudesse ouvir estrelas

Infelizmente, Patrícia Secco falseia Machado de Assis. Além de lhe desfigurar o estilo, ela o emburrece. Sua adaptação é um retrocesso, que sacrifica até os avanços linguísticos do estilo machadiano, já ousadamente próximo da linguagem coloquial, numa antecipação das vanguardas do modernismo que só iriam se consolidar no Brasil quase meio século depois. A autora esqueceu-se de que Machado, assim como Borges, Beckett, Graciliano, não dá para ser adaptado em prosa sem que se perca a essência de sua arte. A obra machadiana é basicamente linguagem. Em seus romances, não há enredos rocambolescos nem profusão de personagens, como há em Homero, Cervantes e nos clássicos românticos. Mesmo “O Alienista”, talvez o enredo mais movimentado de toda a sua obra, depende substancialmente da linguagem, pois é nela que moram a argúcia e a ironia do conto.
Para justificar sua adaptação, Patrícia Secco recorre a afirmações demagógicas. “Estou horrorizada. É muito triste pensar que algumas pessoas acham que Machado de Assis, o mestre da literatura brasileira, não pode ser lido pelo sr. José, eletricista do bairro do Espinheiro, que, apesar de gostar de ler, não cursou mais que o primário, ou pelo Cristiano, faxineiro de uma farmácia de Boa Viagem, que não sabe nem mesmo o significado da palavra boticário”, disse a escritora-empresária à repórter Maria Fernanda Rodrigues, do “Estadão”, em matéria de 9 de maio último. Ora, quem disse que um faxineiro não pode compreender Machado de Assis? Se fosse assim, o próprio Machado — descendente de agregados e ex-escravos, somente com o ensino primário — nem existiria. Foi justamente porque em seu tempo não existia uma Patrícia Secco facilitando-lhe Camões, Vieira e Almeida Garrett que o Machadinho do Morro do Livramento embebeu-se dos clássicos, aprendeu francês sozinho e não apenas se tornou capaz de compreender os mestres da literatura universal como até mesmo se tornou um deles.
Com sua adaptação de “O Alienista”, a escritora-empresária Patrícia Secco destrói a universalidade da literatura de Machado de Assis com a pequenez ideológica da pedagogia de Paulo Freire. Foi o criador da “Pedagogia do Oprimido”, uma espécie de marxismo de autoajuda, quem consagrou a tese pedagógica de que o aprendizado é um epifenômeno das circunstâncias materiais e é somente a partir delas que se pode alfabetizar uma criança e despertar-lhe a consciência. O pedagogo brasileiro foi um grande admirador de Mao Tsé-Tung e, assim como o monstruoso comunista chinês mandava os lavradores arrancarem até as flores nativas, porque eram inúteis no universo do trabalho, Paulo Freire também arranca as palavras burguesas da cartilha do trabalhador, determinando a alfabetização a partir das tais “palavras geradoras”, como “tijolo”. É o que chamo de pedagogia análoga à escravidão — o filho do lavrador deve ter os olhos presos ao chão e está proibido de ouvir estrelas.
Patrícia Secco professa a mesma filosofia: se o faxineiro da farmácia não sabe o que é “boticário”, que se arranque então essa maldita palavra dos textos clássicos. Nunca ocorreu a ela que seria muito mais fácil, barato e respeitoso oferecer um dicionário ao faxineiro? Aliás, um trabalhador que resolva ler “O Alienista” — e isso está longe de ser raro — nem precisará de dicionário para descobrir o significado dessa palavra. O próprio conto, que sempre associa o boticário Crispim Soares a remédios, já lhe oferece a resposta. Além disso, tão logo veja a palavra no texto, o faxineiro irá se lembrar de que existe uma rede de perfumaria com esse nome e, por associação de ideias, poderá lembrar-se da palavra “botica” que pode ter ouvido a um parente mais velho. Caso não disponha de um dicionário em casa, o faxineiro machadiano sempre poderá consultar uma pessoa letrada de seu meio, parente ou um conhecido, que se não for capaz de sanar sua dúvida, saberá onde encontrar a resposta. Ou Patrícia Secco acha que só existe vida inteligente em seu meio social e que nas classes pobres não há ninguém capaz de trocar ideias com um faxineiro interessado em literatura?
SE QUISER CONTINUE LENDO, MAS PARA FAZER A REDAÇÃO NÃO É NECESSÁRIO, SEI QUE VOCÊ TEM POUCO TEMPO.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se tiver dúvida, pergunte.