terça-feira, 18 de novembro de 2014

proposta de dissertação ou carta argumentativa. A regulamentação da mídia.

Se optar por carta dissertativa, dirija-se a um dos articulistas da proposta.

Você é um jornalista revoltado ( ou com a possibilidade de regulamentação, ou com a não regulamentação). Mostre sua revolta, usando 3 figuras de linguagem: uma hipérbole, uma ironia e uma metonímia com nome de jornal ou revista.

texto 1

Assimetrias e desigualdades

por Ângela Cristina Salgueiro Marques

No final do segundo volume do livro Teoria da ação comunicativa, o filósofo alemão Jürgen Habermas desenvolve o argumento de que os meios de comunicação desempenham um papel dúbio na configuração dos processos democráticos: se, por um lado, eles tornam públicos os discursos de atores localizados em diferentes arenas comunicativas, libertando as informações de seus contextos de origem e tornando-as acessíveis a uma vasta maioria, por outro lado, o discurso produzido pelos profissionais da mídia é alimentado por atores em busca de acesso e influência.
Banca de jornais
Os meios de comunicação podem se tornar obstáculos para a promoção de processos democráticos quando hierarquizam e priorizam discursos, para privilegiar interesses de grupos e indivíduos. (foto: Leonardo S. Freitas/ Flickr)
Apesar das assimetrias de poder associadas à ação dos agentes midiáticos junto às suas fontes e ao código interno de seleção e enquadramento dos acontecimentos e falas públicas, Habermas atribui aos meios de comunicação um lugar central no processo de organização, divulgação e espraiamento dos debates que ocorrem nas distintas esferas públicas, compostas por agentes institucionais e agentes informais. Os meios de comunicação, porém, podem se tornar obstáculos para a promoção de processos democráticos quando hierarquizam e priorizam discursos, para privilegiar interesses de grupos e indivíduos.
De modo geral, grande parte da sociedade civil (organizada ou não) tem sua fala excluída do espaço de circulação de pontos de vista e argumentos representado pela mídia. 
De modo geral, grande parte da sociedade civil (organizada ou não) tem sua fala excluída do espaço de circulação de pontos de vista e argumentos representado pela mídia
É possível observar como isso acontece nos textos midiáticos, por meio das seguintes características: a) quando o texto se refere a determinado segmento social usando a terceira pessoa, sem se preocupar em trazer as falas dos interessados; b) quando tal segmento raramente (ou nunca) aparece como grupo ao qual os entrevistados ‘institucionais’ se remetem (revelando que não o veem como interlocutor); c) quando há sinais de que esses entrevistados acreditam que prestam contas a esse segmento, tratando seus integrantes como objetos de um debate ou como meros espectadores do processo decisório; e d) quando integrantes desse segmento são convidados a falar, mas percebe-se que raramente é o conteúdo de sua fala que interessa, e sim a possibilidade de esta ilustrar um ponto de vista ou transmitir uma ‘lição’, geralmente ligada à superação de dificuldades pelo mérito individual.
Os veículos não são despidos de ideologias e preferências institucionais internas, e se posicionam politicamente diante dos acontecimentos e polêmicas. Tal fato muito influencia na seletividade das fontes, na inclusão das perspectivas sociais e na escolha dos temas que terão destaque nos enquadramentos. 
Os meios de comunicação articulam o conteúdo discursivo que circula nos espaços de interação cotidiana, permitem a aproximação ou contraposição de perspectivas e promovem a prestação de contas entre vários interlocutores
É preciso, portanto, não perder de vista o fato de que nem todos os segmentos sociais conseguem ter seus argumentos ou suas demandas de validade expostos na mídia. Sobretudo quando a produção de enquadramentos está associada ao discurso de agentes institucionais poderosos, que estão em contínua disputa para atribuir significados aos eventos correntes.
Os meios de comunicação articulam o conteúdo discursivo que circula nos espaços de interação cotidiana (salientando temas que os profissionais julgam relevantes), permitem a aproximação ou contraposição de perspectivas e promovem a prestação de contas entre vários interlocutores. 
Entretanto, nem sempre eles são benéficos aos processos argumentativos. Os filtros e constrangimentos que impõem, ao hierarquizar conteúdos e fontes, por exemplo, produzem invisibilidades que podem ser desastrosas ao processo de construção da opinião pública via debate e reflexão coletiva.
Fluxos comunicativos que surgem na periferia desse processo, sob a forma de conversações informais, raramente têm acesso à arena dos meios de comunicação e, às vezes, sequer demonstram ter sido gerados com a intenção de fazê-lo. Não há como desconsiderar que existem assimetrias no espaço midiático, ou seja, são desiguais as chances de intervenção dos diferentes públicos na produção, validação, regulação e apresentação de mensagens veiculadas.

Ângela Cristina Salgueiro Marques é professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais
 http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2014/314/midia-e-debate-publico

texto 2

Por que sou contra a regulação da mídia?
Sou contra qualquer criação de órgão para regulamentar os meios de comunicação.

E sou contra por um motivo simples: no Brasil, governo e estado se confundem.


Muito diferente da Inglaterra, por exemplo, onde a BBC é financiada, de fato, pela população através de um imposto que não entra na conta do governo, o Brasil tem o costume de políticas de governo e de estado se misturarem num balaio de gato e de, no momento seguinte, ninguém mais saber o que é de quem. 


Uma atitude republicana de garantir, de fato, um conselho independente do governo é algo quase impossível.


Um órgão 'regulador' da mídia, mesmo de caráter social, sofreria forte influência do governo. E daí para chegarmos à censura é um pulo.


É perigoso.


Vale lembrar, o governo de hoje pode ser a oposição de amanhã. Deixar "desregulado" e nas mãos da justiça quando alguém se sentir prejudicado, para mim, é menor pior do que criar um órgão com um poder de potencialmente censurar idéias diferentes da do governo, por exemplo. 


Para garantir uma democracia saudável, estou com Voltaire: "Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres". 


Acredito que uma mudança simples na legislação poderia ajudar muito a imprensa livre e independente no Brasil. 


Instituir o princípio da paridade nos anúncios oficiais.


Pouca gente sabe disso (ou pouca gente fala disso), mas quem define para qual veículo vai o grosso da verba publicitária dos governos são os próprios governantes.


Isso cria uma lógica perversa, principalmente em cidades pequenas. Para manter o negócio, o empresário precisa de dinheiro. Para garantir os anúncios estatais, o governante quer um jornal cuja linha editorial se encaixa nos seus interesses.


Então o empresário adapta ao jornal ao interesse dos governantes para vender espaços e, então, temos a mídia chapa branca. Há até aqueles que assumem um ar de opositor como estratégia para serem cooptados pelo Estado e depois se amansarem. 


Isso acontece com TVs, jornais impressos, sites e até blogs. 


Resolver esse problema é simples: instituir o princípio da paridade na distribuição da verba publicitária. O veículo que circula mais, recebe mais; o veículo que circula menos, recebe menos, sem nenhuma interferência do governante. 


Caberá às secretarias de comunicação a única tarefa de criar o material publicitário e os releases, não a de determinar qual veículo eles vão comprar o espaço.



É hora do Ministério Público e a sociedade abrirem o olho quanto a isso. Uma normatização da verba  pública destinada à publicidade poderá fazer muito bem ao nosso jornalismo. 
..............http://fabiofariasf.blogspot.com.br/2012/05/por-que-sou-contra-regulacao-da-midia.html.....................
Quem tem medo da regulação?
“É sempre preferível o ruído da imprensa ao silêncio tumular das ditaduras”. 
A senhora presidenta disse isso durante a 15ª Conferência Internacional Anticorrupção, em Brasília, e não é a primeira vez que ela fala incisivamente em defesa da liberdade de imprensa.
Em uma dessas intervenções, logo depois de assumir seu cargo, disse que o único controle de imprensa admissível era o controle remoto.
É significativo — e com certeza não é coincidência — que esse pronunciamento tenha sido feito exatamente no momento em que as abelhas do enxame do partido do governo, notadamente seu presidente Rui Falcão, e o condenado ex-ministro José Dirceu, zumbem com insistência a tese de que aquilo que eles chamam de “regulação da mídia” não pode passar deste ano.
Repete-se, como vem se repetindo ad infinitum, a confusão propositada entre a falta de regulamentação do artigo 225 da Constituição, que deveria fixar normas para outorga de concessões públicas e disciplinar a questão da propriedade cruzada dos meios de comunicação, com os conteúdos da mídia.
Os partidários da regulação insistem na tese de que ela nao deve ser confundida com censura. Dizem que os meios de comunicação agitam falsamente o espantalho da censura porque querem fugir da discussão.
É preciso deixar claro que um marco regulatório das telecomunicações está previsto na Constituição, é necessário e saudável. O sistema de outorga de concessões pode e deve ser regulado. A concessão de canais de televisão a igrejas e políticos e a propriedade cruzada de meios precisa ser revista.
Até aí, tudo bem.
Mas por que a discussão ressurge exatamente no momento em que a Suprema Corte está julgando o caso do mensalão?
O que tem a ver a cobertura que a imprensa faz do caso com regulação, se a intenção não é direcionar a opinião dos veículos de acordo com o que interessa ao partido hegemônico no poder?
Em maio deste ano, Rui Falcão deixou claro que o embate nao tem nada a ver com marco regulatório das telecomunicações mas tem tudo a ver com o conteúdo das opiniões políticas que nao agradam ao partido do governo:
“(A mídia) É um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do (ex-presidente) Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico. Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como foi a campanha contra a companheira Dilma (nas eleições presidenciais de 2010) (…).
“(A mídia) produz matérias e comentários não para polarizar o país, mas para atacar o PT e nossas lideranças.” “O poder da mídia, esse poder nós temos de enfrentar.”
Não se trata, portanto, de regular. Trata-se de enfrentar.
E enfrentar quem tem opiniões contrárias é controlar.
E controlar é censurar.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação do jornal O Estado de S.Paulo”. É autor do livro A Ilha Roubada, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.
E-mail: svaia@uol.com.br

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